Futebol
111 anos de identidade gremista
Hoje é um dia emocionante para todos nós, gremistas: o clube de nossos amores completa mais um aniversário, 111 anos de muita história; como toda boa história, tem seus momentos gloriosos e seus momentos mais complicados. Mais do que relembrar acontecimentos que já vivi por conta dessa paixão azul, preta e branca, hoje minha reflexão é sobre em qual momento da nossa trajetória estamos, e o que fazemos para honrar as nossas tradições?
É inegável que os 13 anos sem grandes conquistas machucam o torcedor. Um clube grande como o Grêmio não pode ficar tanto tempo sem vencer campeonatos relevantes. Pior: nesse meio tempo ainda tivemos um rebaixamento, que acabou originando um dos capítulos mais marcantes da nossa história, a Batalha dos Aflitos. Por outro lado, a paixão por um clube não está ligada à vitórias; pelo contrário, já vimos muitos casos de times que passaram por grande jejum de títulos, e ainda assim aumentaram a sua torcida.
Assistindo ao jogo de ontem, e analisando os últimos jogos, eu cheguei a uma conclusão: mais do que tempo sem ganhar, mais do que derrotas marcantes, seja por goleada para o tradicional rival, seja eliminações patéticas para times inferiores ao nosso, acredito que o que mais impacta e dói é o abandono, por parte do Grêmio, da IDENTIDADE vencedora que o levou a ser Grêmio.
Nesses 13 anos, montamos times bons no papel, outros nem tanto, e quase todos eles careciam de alma; não eram Grêmio. Não lutavam pela bola como quem luta por redenção, com fome de glória. Assim, profissionais do naipe de Vanderlei Luxemburgo, Paulo Autuori e Enderson Moreira, certamente capacitados, mas que professam um futebol completamente diferente do DNA gremista, desembarcaram no Olímpico/Arena para tentar tirar o Grêmio da fila de títulos. Pior: se entrou numa espiral maluca de acreditar que, quem foi vencedor no Internacional, poderia ser vencedor no Grêmio.
Pensei muito nisso ontem vendo o Giuliano jogar. Pra quem não lembra, ele é o jogador que fez o gol espírita no Estudiantes, ao fim do jogo, na campanha do Inter na Libertadores 2010, que culminou no bicampeonato colorado. O gol, emblemático, ficou conhecido como "o gol da fumaça", já que foi marcado enquanto a torcida argentina acendia sinalizadores que quase inviabilizavam a visão do gramado. Esse mesmo jogador marcou o terceiro gol da vitória colorada na final, e foi escolhido o melhor jogador da competição, ainda que fosse reserva.
Precisando de uma referência técnica, o Grêmio trouxe este jogador, a peso de ouro, para ser o Messias tricolor na busca por um ansiado título. Da mesma forma, Edinho, símbolo colorado, foi trazido ao Grêmio no início do ano por ser raçudo e representar o espírito gremista. Traduzindo: quem os trouxe, acreditou que, se eles foram capazes de erguer taças com o Inter, certamente nos ajudarão a fazer o mesmo por aqui.
Só eu acho isso absurdo? Será que realmente precisamos de um símbolo colorado para levar o Grêmio às vitórias? Será que nenhum gênio se dá conta de que, ainda que se consiga esse objetivo, a flauta colorada seguirá nos atordoando ("tiveram que chamar o fulano para ganharem alguma coisa")? Mais importante: não percebem que é MUITO MAIS DIFÍCIL um jogador com passado relevante no rival dar certo por aqui? É muito difícil de entender tudo isso??
Ainda que os referidos jogadores brilhem e guiem o Grêmio a títulos, não é desse jeito que eu gostaria de ver a minha paixão. Temos um modelo, e TODAS as vezes que os adotamos, deu certo. Mais: o que é dar certo? É simplesmente ganhar?
Pra mim, não. Dar certo é jogar como GRÊMIO. Foi por esse time que eu me apaixonei, é com esse futebol que me identifico, e eu NÃO QUERO vender a alma ao diabo para ser campeão. Talvez esteja na hora de sermos mais humildes, e eu me coloco em primeiro lugar: por que não primeiro nos preocupamos com a hegemonia no estado? Por que não jogamos o Gauchão com alma, buscando conquistá-lo, ao invés de ficar nesse joguinho de "quero mas não quero" dos últimos anos?
O resto, acho que a diretoria, depois de mil erros, já fez: trouxe de volta um técnico que ENTENDE o que é ser Grêmio. Eu não sei se ele será campeão, não faço ideia de como o Grêmio vai terminar 2014, de como vai ser em 2015, mas de uma coisa eu tenho certeza: está me fazendo feliz, não só pelos resultados (meras consequências de um estilo definido de jogar), mas porque a cada jogo, eu sei que o GRÊMIO vai entrar em campo, e não outro time vestido de azul, preto e branco.
E no MEU Grêmio, não precisamos de jogadores que foram campeões vestindo vermelho; eu quero jogadores dispostos a escrever as suas histórias por aqui; eu quero ver a IDENTIDADE tricolor em cada jogo, em cada campeonato, em cada resultado.
Quero menos Werleys, menos Giulianos, menos Edinhos; e mais Saimons, mais Luans e mais Matheus Bitecos. Hoje, e daqui a 111 anos, sempre.
Feliz aniversário, Grêmio!
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