O falecimento do clássico Gre-Nal
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O falecimento do clássico Gre-Nal


Foto: Diego Guichard
 
O Gre-Nal, para mim, era o maior clássico do Brasil. Um dos três maiores da América do Sul. Movimentava uma cidade, forçava os dois times a se superarem constantemente, era o dínamo de uma paixão vulcânica, que levava gremistas e colorados a considerarem esta partida como um campeonato à parte. Mas no domingo, 10 de agosto de 2014, o clássico faleceu.

Primeiro, dentro de campo. Sejamos realistas: Grêmio e Inter não fazem mais parte da mesma cadeia alimentar. As constantes derrotas gremistas já são "normais", como dizia o Ends, e perderam a graça. De 2003 para cá, foram 50 jogos, com 23 vitórias do Inter, 11 parcas vitórias do Grêmio e 16 empates. Aliás, o empate "empatou" com o Grêmio no historial entre os dois, onde há um saldo de 27 vitórias a favor do Inter. Demasiada diferença para que se considere um clássico. Os rivais do Inter são Corinthians, São Paulo, Cruzeiro; o Grêmio deve procurar os seus clássicos, talvez contra Atlético-PR, Atlético-MG, Figueirense, entre outros.

A camisa tricolor segue sendo gloriosa, cheia de histórias, e o gremismo de cada um não pode, e nem deve se alterar; pelo contrário, o apoio da torcida deve ser incondicional. No entanto, isso tudo é resultado do que os próprios "gremistas" que dirigiram - e dirigem- o Grêmio por todos esses anos fizeram. Um descaso com a história, tradições e identidade do clube. E isso não é seguir um modelo de 1960; é entender que há uma cultura futebolística arraigada, que deu TODOS os títulos da história gremista, e simplesmente segui-la. Se isso fosse feito, nomes como Luxemburgo, Paulo Autuori, Werley, Enderson Moreira, só para citar alguns, jamais vestiriam as cores azul, preta e branca. Por isso, torcedor gremista, não reclame comigo: reclame com seus dirigentes que apequenaram o Grêmio durante todos esses anos.

Fora de campo, o Gre-Nal teve morte cerebral há muito tempo, mas veio a óbito oficialmente no domingo. Tivemos a prova cabal de que NUNCA poderemos ter as duas torcidas juntas. Muito menos uma área mista, menos ainda um "Caminho do Gol", que seria um "Caminho da Tragédia". Geral, Popular, Nação, Velha Escola, o raio que o parta, para mim são todos a mesma coisa: marginais que se aproveitam da paixão clubística de alguns ingênuos para ganharem dinheiro e cometerem crimes.

Sempre fui contra, mas agora não tem mais jeito: façam torcida única, promovam o apartheid no Rio Grande do Sul em dias de jogo entre os dois times: gremistas andam por tais e tais ruas, colorados, por ruas opostas. Que nunca se encontrem, que peguem conduções diferentes, comam em restaurantes diferentes, jamais frequentem os mesmos lugares. Odeie seus familiares que cometem o pecado de torcer para um time diferente do seu, rompa com sua (seu) namorada (o), se desfaça dos amigos que vestem vermelho, se você veste azul, e vice-versa. O futuro é que o Estado seja dividido em áreas vermelhas e azuis. Ah, e quando brigarem entre si? Fácil: divide ainda mais. Amigos do fulano de um lado, amigos de outro no canto oposto. E assim vamos até criarmos verdadeiras bolhas de intolerância, tão saudáveis para essa sociedade violenta em que vivemos.

Além dos valorosos confrontos entre os marginais fora de campo, dentro do estádio não dá para ter 1.300 sujeitos que são de um determinado time, se esses sujeitos (torcedores não, né?) CELEBRAM a morte de um dos ídolos do time adversário; não tem porque abrigar torcedores que DEFECAM nas cadeiras do adversário; que DEPREDAM o patrimônio do rival, mesmo sabendo que é o seu time que terá que pagar por essa destruição. Que QUEIMAM banheiros químicos. Em pleno Dia dos Pais, QUEBRARAM a alma de duas crianças gritando a plenos pulmões que seu pai morreu, fazendo chacota disso! Sério, o que mais vocês querem ver para entender que o Gre-Nal morreu, acabou, não existe mais?

Porque o Gre-Nal que meu pai colorado me ensinou a amar era um jogo em que eu, ele, seu amigo colorado e meu tio gremista íamos juntos ao estádio, e chegando lá nos dividíamos para o setor de cada um. O estádio era dividido meio a meio, e a cada ataque de um dos times, era lindo ver aquela onda vermelha ou azul levantando para acompanhar o desfecho da jogada. No final do jogo, nos reuníamos novamente, tirando sarro com os perdedores e terminando a noite fazendo uma refeição em algum restaurante. Esse jogo não existe mais, e nunca mais vai existir.

Que pena. O Gre-Nal morreu. Descanse em paz, clássico maravilhoso! Vou lembrar para sempre de ti...    



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