Futebol
O torcedor subestimado
Segunda-feira passada, depois do jogo escandaloso contra o time queridinho da arbitragem gaúcha, fiz dois posts e os apaguei, por considerar seu conteúdo impróprio às vésperas de uma decisão. Sábado à tarde, ignorei alguns sinais e fui até Gravataí, na esperança de reversão da campanha ruim que o Aimoré faz na Copinha. Ledo engano: perdemos para um Cerâmica sem técnico, sem chances e sem rumo, já que se dizia (informação rechaçada ao final do jogo) que aquele seria o último jogo do time profissional.
Claro que só o fato de entrar em campo no segundo semestre, com todas as dificuldades, é algo a ser comemorado pelo torcedor aimoresista. Só que, ao mesmo tempo, num grupo de 7 times, sem o Grêmio, é complicado constatar que não conseguimos ficar entre os 4 melhores do grupo. Difícil acreditar que o futebol de Estância Velha, XV de Novembro e Cerâmica tenham dificuldades menores do que as nossas, ainda que a participação do Aimoré na competição tenha sido batizada de "laboratório" para o Gauchão.
Ao final do jogo, voltando para Porto Alegre, ouvi as entrevistas pós-jogo, e fiquei bastante chateado de ver o papel que dirigentes, técnicos e comentaristas atribuem ao torcedor. Tive a nítida impressão de que somos percebidos como neandertais obcecados pela vitória, que a qualquer resultado diferente disso, explodem em xingamentos aos profissionais do clube.
O presidente André Schu, a quem tenho enorme respeito e admiração pelo trabalho, falou que não faltou empenho ao time. Evidente que o discurso externo dele tem que ser esse mesmo, mas no íntimo ele sabe que não vimos isso. Teve gente matando bolinha no peito, tocando pro lado, evitando contato com adversário. Mais do que isso: perderam quase todas as divididas para um time sem pretensões no campeonato. Deixaram o camisa 11 deles apitar o jogo e distribuir pancadas como quis, sem que ninguém desse uma chegadinha no cara.
Nós, os neandertais, não queríamos necessariamente a vitória; fomos até lá ver um time lutar dramaticamente por ela, independentemente de consegui-la ou não. Mas ninguém viu isso. Vimos um time totalmente entregue, sem reação, sem gana, sem postura de quem quer vencer, com raríssimas exceções. Não tô falando de qualidade; tô falando, por exemplo, de ter uma bola parada a favor depois da risca do meio campo e, ao invés de levantar a bola pra área, como fez o Cerâmica, dar um toquinho pro lado e tentar sair jogando. Nada disso me parece comportamento de quem precisa vencer um jogo para seguir na competição.
Depois, foi a vez do técnico Paulo Porto considerar "normal" a reação da torcida, do mesmo jeito blasé com que comandou o time à beira do gramado. No final do jogo, perdendo por 1 x 0, escanteio a favor e o Toto pergunta a ele se o goleiro Fernando pode subir para tentar o cabeceio. Resposta do professor: "tanto faz". Exatamente a postura do time em campo, num emaranhado tático (um 3-5-2 com marcação em bloco baixo, vazando justamente onde deveria ser mais forte, pelos lados) e sem qualquer chance de reversão do placar.
Por fim, o comentarista Zequinha Luz cunhou a seguinte frase: "Dirigente analisa, torcedor quer vitórias". Respeitosamente, estás enganado, sr. Zequinha: temos a capacidade de analisar, sim. Nenhum de nós exigiria o título da competição, quando temos um São José e um Novo Hamburgo em estágios muito mais avançados do que nós, sem falar no Inter B recheado de profissionais.
A expectativa era a simples classificação para as semifinais, superando times MUITO mais fracos do que o nosso. Por isso a cobrança, simples assim. Se desde a estreia diagnosticastes que não temos jogadores de "criatividade" no meio de campo, sinto informar que este é um problema mundial do futebol, imagine no interior gaúcho. Mas ainda assim, posso lhe garantir que temos muito mais time do que outros concorrentes.
Se me chamarem de corneteiro (porque parece que não se pode fazer críticas a ninguém, temos que aceitar quietos o que nos impõem), realmente não me importo. Vou continuar sendo sócio do clube, comparecendo aos jogos, fazendo as minhas análises (quem quiser conversar sobre tática, por exemplo, estou à disposição, pra QUALQUER UM) e cobrando quando eu não ver o mínimo no time: postura de vencedor. Não quero outro técnico, tô bem longe de não aprovar o trabalho da direção, mas isso não significa que eu tenha que concordar com tudo, não é?
Dirigentes, técnicos, jogadores, comentaristas vão passar; mas nós, torcedores, permaneceremos como os maiores ativos do clube. Por isso, não nos subestimem. Aproveitem o tempo até o Gauchão para montar não um time de craques, porque isso não é possível, mas um time que tenha vontade de vencer, e demonstre isso dentro de campo. É só o que pedimos.
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