Futebol
Gre-Nal da Idolatria
Ainda pegando o gancho do jogo do último domingo entre Inter x Fluminense, a imprensa bateu forte no fato de 3 ídolos colorados terem tirado pontos do Inter dentro do Beira-Rio. Inclusive li alguns comentários exaltando o ocorrido uma semana antes, quando a torcida do Grêmio desconcentrou Ronaldinho com as vaias e ajudou o tricolor a ganhar o jogo, e defendiam que a torcida colorada teria que ter feito o mesmo com Abel, Edinho e Sóbis. Acho que a torcida do Inter ganhou este Gre-Nal, e vou explicar.
Na verdade, creio que este comportamento tem muito a ver e ao mesmo tempo explica muito dessa gangorra enorme que vivemos há pelo menos uma década. Os anos 2000 trouxeram muitos títulos ao Inter, e muitas desilusões ao Grêmio, e isso dita o modo como o clube se comporta com seus ídolos.
Desde a década de 80, diversos jogadores passaram pelo Grêmio e marcaram época, envergando a condição de ídolos até hoje. Mazarópi, De León, Baidek, Baltazar, Osvaldo, e o maior deles, Renato, se juntaram, na década de 90, a todo o time de 95 e alguns outros no imaginário emotivo da torcida, gerando saudades e manifestações de carinho até os dias de hoje. Mas pergunto: algum jogador do Inter pode se orgulhar do mesmo? Antes que falem em Dunga e Taffarel, lembro que estes dois são ídolos muito mais pelo que fizeram na Seleção do que pelo Colorado.
E na década de 70, alguém lembra de algum ídolo gremista até hoje? Ok, Iúra, Tarciso, André Catimba e outros têm lugar cativo na história dos grandes jogadores do Grêmio, mas não podem ser considerados "ídolos de todas as gerações", como Danrlei e Renato. E o Inter? Sobram exemplos dessa década: Falcão, Figueroa, Manga, Caçapava, Valdomiro, Escurinho e outros tantos são reconhecidos até hoje, por gente que nunca os viu jogar. Da mesma forma como não se acha com facilidade algum ídolo colorado na década de 90.
O que quero dizer com isso? Será que não existiram bons jogadores gremistas em 70, ou bons jogadores colorados nos anos 90? Não tenho dúvida que sim, mas a carência da torcida não permitiu que eles se tornassem ídolos. Toda a frustração de um povo fica depositado nas costas de alguns jogadores que se destacam, mas não conseguem fazer o que a torcida desesperadamente precisa: levantar taças.
Na mesma medida, esse comportamento acaba sendo generoso no lado vencedor. Jogadores sem tanto protagonismo, mas que representam vitórias, algo farto no lado que comemora, também alcançam a condição de ídolos. Cuca, Lima e Valdo, no Grêmio da década de 80, Dadá, Vacaria e Claudio Duarte do Inter dos anos de 70, são bons exemplos disso. São lembrados até hoje, favorecidos por um sentimento de superioridade positiva da torcida de seu clube correspondente. Em épocas ruins, correriam o risco de serem execrados, ou pior, de sequer serem lembrados como vários bons jogadores que passaram pela dupla Gre-Nal.
Essa questão comportamental, esse sentimento de superioridade generosa não fica reservado somente à torcida. Os dirigentes também manifestam esse comportamento.
Desde 2000, temos vários exemplos de jogadores que ganharam títulos importantes pelo Inter e foram ou mandados embora, ou vendidos às vezes até contra sua vontade, por determinação da dirigência. Fernandão, Iarley, Edinho, Alex, Sóbis e tantos outros passaram por esta situação. Tempos depois, voltam ao Beira-Rio como adversários, se declaram emocionados pelo que viveram no Inter e são ovacionados pela torcida. Que, agradecida, mantém vivos em sua memória esses heróis de outrora, mesmo que estes marquem gols e ganhem jogos contra o dono da casa. Mas isso é do jogo. E até aí eles mostram a relação bem-resolvida com o clube: geralmente não comemoram e ainda pedem desculpas para a torcida.
No Olímpico, os jogadores vão embora por vontade própria. Por algum motivo, mesmo que adorados pela torcida, resolvem pegar suas coisas e buscar novos rumos. E então, o amor que a torcida tricolor professava por eles logo vira ódio, e um ódio mortal. E quando voltam ao Olímpico, são vaiados, xingados e hostilizados por torcedores que, no fundo, sentem saudades daqueles jogadores que prometiam tirá-los da falta de títulos que já dura 10 anos. Excetuando Ronaldinho, que traz consigo outras questões que vão além dessa carência, jogadores como Diego Souza, Borges, Maxi López, Roger e outros, ouviram estrondosas vaias quando visitaram o Grêmio, mesmo aqueles que, como Roger, exaltaram seu amor à torcida e ao clube. Não adianta. A relação de confiança já foi quebrada. A falta de títulos e a impotência geram um sentimento que na psicologia se chama confirmação de crenças: o sujeito acredita piamente que aquele ídolo logo irá embora e, ao menor sinal de ocorrência dessa situação, acaba confirmando sua crença e isso gera ainda mais revolta. A dirigência, fragilizada pela necessidade de levantar taças, acaba buscando jogadores sem esse sentimento que aflora em jogadores do Inter como D'Alessandro, Guiñazú e Bolívar, esse senso de pertencimento, essa identidade com o clube, mesmo aqueles que não são daqui ou que, como Bolívar e Pato, eram gremistas quando crianças. Os mandatários gremistas, então, acabam ridicularizados por jogadores como Ronaldinho, Wellington Paulista e até menos votados, como Perdigão, pretendido pelo Grêmio e que acabou indo parar no Inter "porque queria ganhar títulos". E agora o Gladiador parece tomar o mesmo caminho.
Qual a solução para isso? Títulos, claro, mas como quebrar esse círculo vicioso? Não vejo outra saída a não ser apostar em atletas da base, identificados com o clube, que possam não só gerar dinheiro, mas através de sua identificação possam gerar na torcida o preenchimento desse vazio de ídolos que ela vive hoje. Se isso não acontecer, a gangorra continuará bastante enclinada para o lado vermelho, como está agora.
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