Tenho pena do Ronaldinho
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Tenho pena do Ronaldinho



 
Tenho pena do Ronaldinho. Rárárá, rirão muitos, pela grana que tem ele que deve ter pena de ti, dirão. Mas explico.

Começo por sua infância. Ronaldinho teve como ídolo um grandíssimo jogador chamado Assis, seu irmão. Tinha tudo para ter uma carreira brilhante, mas o dinheiro falou mais alto e ele acabou se transferindo para a Suíça, se escondendo do mundo do futebol nos seus melhores anos, antes de voltar para o Brasil e jogar em alguns clubes até encerrar a carreira. Então o ídolo de Ronaldo foi muito menor do que ele mesmo. Antes da transferência, Assis forçou a barra para renovar contrato com o Grêmio e acabou ganhando uma casa com piscina do clube. Piscina essa onde, lamentavelmente, seu pai, João, acabou se afogando e perdeu a vida quando Ronaldinho era bem novo. Ou seja, também não pôde aproveitar a convivência com seu pai.
Quando começou a despontar no Grêmio, seu empresário era seu irmão, Assis, que aprendera muitos truques sobre inteligência financeira em sua passagem pela Suíça, usando sua malandragem para se tornar um empresário de sucesso. Mas nem aí Ronaldo pôde ter sossego. Seu irmão usou e abusou de seu ardil, e acabou se tornando um homem cuja palavra não vale absolutamente nada, e visto no mundo do futebol como alguém sem escrúpulos (vai perguntar no Barcelona o que eles acham disso).

Antes da ida pela porta dos fundos para o PSG, Ronaldinho enfrentou muitas dificuldades no Olímpico. Não esqueço de quando, na Libertadores de 1998, o menino magrinho e com a cabeça raspada entrava no decorrer das partidas do time do Lazaroni e a torcida dizia: "Esse aí é mascarado que nem o irmão, bom mesmo é o Tinga". Bom, tirando o erro crasso da torcida tricolor em apontar como craque um jogador mediano que mordeu a mão de quem deu de comer a ele (assunto para outro Post), o fato é que Ronaldo gozou de pouquíssimos períodos de unanimidade na Azenha. Inclusive, tenho muita dificuldade em entender quando se referem a ele como "antigo ídolo gremista". Quem ganha um Gauchão, não pode ser ídolo. Ídolo é o Renato. O Danrlei. O Mazarópi. O Dinho. O Jardel. Esses sim. Além do caráter, fator primordial para qualquer criatura se tornar lenda no Olímpico, eles ganharam títulos, marcaram seus nomes na história.
Sobre 2001, muito já se falou e ninguém sabe ao certo que aconteceu. O que tenho certeza é que não houve um só culpado, entre Ronaldos, Robertos, Josés e outros menos votados. O que teve sim, foi a omissão do único que podia resolver a situação e honrar a historinha de que jogaria no Grêmio até de graça.

Então, lá foi a promessa de craque para o Paris Saint-Germain. Jogou razoavelmente, se adaptou à Europa, mas hoje é um ilustre desconhecido no imaginário parisiense. E nem venha me dizer que o povo francês é frio e não reconhece seus ídolos, você não faz ideia da idolatria francesa por Leonardo, Raí e Ricardo Gomes, para ficar em três exemplos.

De lá, ao Barcelona. Para marcar época e o seu nome na história. Realmente atingiu o ápice em terras espanholas, e levou o Barça a um novo patamar. Foi eleito Melhor do Mundo duas vezes, mas, inexplicavelmente, deixou o clube pela porta de trás. E dessa vez não porque ele forçou a barra, mas porque a torcida e os dirigentes simplesmente cansaram da falta de compromisso de alguém que, mesmo nos melhores momentos, jamais sentiu o que é ser Barcelona, nunca atingiu o tamanho de sua idolatria. Hoje, quando se fala em jogadores brasileiros, Romário, Rivaldo e até Ronaldo, que jogou no rival Real Madrid, estão na frente das preferências barcelonistas. Nem falar na comparação com Messi. Não dá nem graça. As posteriores mostras de carinho dadas pela torcida blau-grana são muito mais reconhecimento por serviços prestados do que efetivamente saudade e vontade de vê-lo de novo com a camisa azul-grená. Ninguém contestou sua saída, e ninguém nunca pediu sua volta. Muita indiferença para quem atingiu o topo do mundo (ou quase, diriam os torcedores do Inter acertadamente).

Na seleção, jamais atingiu um nível de protagonismo que muitos imaginavam que ele teria (eu mesmo pensava assim). Mesmo em 2002, quando fez um golaço de falta contra a Inglaterra na semifinal, sempre teve que conviver com a "sorte" de ter acertado um chute sem querer e com a irresponsabilidade de ter sido expulso e perder a final. Em 2006 não jogou nada e teve uma falta decisiva contra a França, desperdiçada. Só está jogando na seleção hoje porque Ganso ainda não se encontrou e porque Kaká está machucado, caso contrário jamais voltaria. Neymar tem tudo para ser o que Ronaldinho jamais foi e que Ronaldo Fenômeno ainda é: herói nacional.

A próxima parada era o Milan. Não há muito o que se falar sobre isso, já que o máximo de sucesso que obteve foi marcar um gol em um clássico contra a Inter. Esteve longe de gravar seu nome no coração dos torcedores, tanto que na sua volta ao Brasil, o Milan não fez muita força para retê-lo, e logo entendeu que seria um grande negócio liberá-lo.

Aqui, o momento mágico, onde tudo poderia ter sido mudado. A ideia era que Ronaldo voltasse ao clube de suas origens, tinha uma Libertadores pela frente para retomar aquela história mal-contada de 2001. Retomaria sua carreira, mas acima de tudo a sua vida. Ninguém pode ser verdadeiramente feliz sem voltar pra casa. Sem o reconhecimento dos que foram e deixaram saudades. Dos que voltam ao seu lugar no mundo, para desfrutar do carinho dos seus. Mas não. Ronaldinho preferiu transferir-se para o Flamengo, um direito seu, mas novamente de forma equivocada. Sem dizer nada, sem dar a menor satisfação, apostando no calor de um novo amor. Mas novamente quebrou a cara.

Quem me conhece sabe da minha admiração pelo Flamengo, então não tem nenhuma mágoa aqui, só constatações. Acontece que o carioca, e o flamenguista em especial, tem uma relação diferente com seus ídolos. Ronaldo teve recepção de rei, e quase sempre foi muito bem tratado, a não ser em uma fase ruim, onde começou a ser perseguido pela torcida, inclusive com a criação do Disque-Dentuço, que tinha a ideia de patrulhar suas saídas noturnas. A torcida do Flamengo tem como grande ídolo ela mesma, ou o próprio Flamengo, e ninguém pode tomar esse lugar. Ronaldinho jamais terá a defesa incondicional que Renato tem no Olímpico, e por ter se criado aqui, sente falta disso. O rubro-negro não tem pudor em sacanear Adriano, Andrade e até mesmo o Zico teve problemas em sua última passagem pelo clube.

Então, no último domingo, Ronaldinho teve a certeza de que nem todo o dinheiro que ele merecidamente tem pode comprar aquilo que é mais importante para um homem: poder andar de cabeça erguida em qualquer lugar e ser aceito pelos seus. Ele jamais terá isso. Com o tempo, essa raiva gremista vai passar e se tornará indiferença. Mas Ronaldo jamais esquecerá essa relação, que o perseguirá até o fim de seus dias, a não ser que se exile em terras cariocas ou catarinenses. E ainda assim, não experimentará o gosto de morrer em paz, no lugar onde nasceu, gosto que o Canto Alegretense consagrou: 

"E na hora derradeira que eu mereça
Ver o sol alegretense entardecer
Como os potros vou virar minha cabeça
Para os pagos no momento de morrer"

Por isso, amigos, tenho pena do Ronaldinho. Tem todo o dinheiro do mundo, mas não pode comprar as coisas mais importantes.



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