Futebol
Como um pai colorado pode ajudar um filho a ser gremista
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Foto de 2010, do site R7 Esportes |
Nasci no dia 27 de fevereiro de 1982, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Como todo filho de pai fanático por futebol, evidentemente meu início no futebol foi torcendo pelo mesmo time do meu pai, o Sport Club Internacional. Tá na minha memória, não me perguntem como, alguns jogos no Beira-Rio do alto dos meus 5 anos. Inclusive tenho uma foto antiga nas arquibancadas desse estádio tão especial para mim.
No ano de 1989, com 7 anos de idade, fiz uma escolha que iria mudar a minha vida: por influência do meu tio Remi, e também do meu padrasto Edgard, além da minha mãe, me tornei gremista, e logo de cara já comemorei um título, a Copa do Brasil daquele ano, na companhia da minha mãe gremista. Meu pai no início teve raiva, depois desdenhou e logo passou a ver o lado positivo daquela minha escolha. É que sempre assistíamos futebol escolhendo times rivais para torcer, e agora a rivalidade estaria presente em todas as nossas discussões futebolísticas.
Quer saber o que é mais curioso? A minha estreia no Olímpico Monumental, o estádio mais importante da minha vida, não foi com o meu tio ou com o meu padrasto: foi com o meu pai. Depois de um tempo, ele começou a fazer questão de me levar ao Olímpico para assistir o Grêmio, desde que eu fosse com ele ao Beira-Rio. Eram experiências sensacionais, que me fizeram crescer como pessoa mesmo eu sendo um guri, pois inconscientemente meu pai estava me ensinando o valor da tolerância e da boa convivência com as pessoas que pensam diferente de ti. Eu secava o Inter e ele secava o Grêmio, óbvio, mas nos respeitávamos quando havia um momento de dor do outro.
E em 1991, tive a minha primeira grande dor futebolística: o meu time havia sido rebaixado para a segunda divisão. Na partida que decretou essa condição, contra o Botafogo de Renato Portaluppi no Rio, ele estava comigo, ouvindo o jogo no rádio. Quando tudo acabou, eu estava atônito, sem entender direito o que tava acontecendo, e ele em silêncio, escolhendo as palavras certas para consolar um guri que torcia para o time rival ao dele, e que estava sofrendo por algo que na realidade o fazia feliz. Então ele não disse nada, me deu um abraço que nunca esqueço e ofereceu o seu ombro para o meu choro.
Na disputa da Segunda Divisão, em 1992, ele praticamente me obrigava e ir ao Olímpico assistir aos jogos contra os Operários da vida. Por vezes eram jogos à tarde, e ele saía do seu trabalho para me levar ao Olimpico.
Em 1993, o Grêmio já estava de volta à 1ª divisão. Nesse ano, continuamos no mesmo esquema, e tá na minha memória um jogo contra o River Plate (empate em 1 x 1) e um jogo contra o Flamengo, onde o Grêmio perdia por 2 x 0 e pedi para ir embora, pois eu não aguentava a humilhação de ver meu time perder. Saímos do estádio e o Alcindo empatou o jogo com dois gols em dois minutos. Meu pai olhou para mim e me deu uma lição que eu nunca mais esqueceria: "Nunca deixa de acreditar no teu time". Hoje, se o Grêmio perde por 3 x 0, ainda fico acreditando que algo de bom pode acontecer.
Em 10 de agosto de 1994, veio meu primeiro título comemorado no Olímpico com o Grêmio. E quem estava comigo? Sim, o meu pai. Com requintes de crueldade: fomos para o estádio ainda à tarde, eu, ele e minha irmã de criação, esperamos uma eternidade e, com um gol do Nildo, fomos campeões contra o Ceará. Meu pai ainda teve paciência para ficar no fim do jogo e assistirmos a volta olímpica. Eu e a Renata estávamos realizados, e sei que naquele momento o lado pai era mais forte do que o colorado, e alguma satisfação com a nossa alegria era inevitável de parte dele.
De lá para cá, colecionamos outras várias histórias, mas à medida que eu ia crescendo, nossas divergências (não futebolísticas, o único assunto onde conseguíamos conviver) iam aumentando, e a vida gradativamente foi nos separando. Hoje, por uma série de questões, não fazemos mais parte direta da vida um do outro, mas eu não esqueço de todas aqueles lições que aprendi com ele.
E a vida, sábia, me deu uma irmã colorada fanática, para a qual já liguei chorando após uma vitória épica do Grêmio, e eu sei que ela ficou feliz de verdade. Temos as nossas divergências com o nosso pai, mas essa convivência pacífica que temos com certeza é fruto de tudo aquilo que vivemos com ele no tempo de criança. E tenho a satisfação de ter um sobrinho/filho colorado, com o qual partilho e passo adiante tudo aquilo que meu pai me ensinou. Ele tem só 16 anos, mas temos uma verdadeira coleção de perrengues e momentos gloriosos no Beira-Rio, Olímpico, Cristo Rei, e onde quer que tenha futebol.
Assim como meu pai me ajudou a ser gremista, agora tenho a satisfação de ajudar o meu sobrinho e ser cada vez mais colorado. Acho que, de tudo o que vivi, é o maior ensinamento que eu trago do meu pai. Quem sabe tudo isso ainda seja partilhado em uma mesa de almoço em família num domingo, esperando um Gre-nal assistido por todos em harmonia? Feliz dia dos pais a todos!
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