Futebol
Amor transmitido entre gerações
Não tenho a sorte de partilhar do amor por um clube de futebol com o meu pai, como muitos caras têm. Até nasci torcendo para o mesmo time, como seria natural, mas logo me tornei independente futebolisticamente e passei a torcer para o meu próprio time, rival do time para o qual meu pai torce.
No entanto, quando eu era criança, havia um clube que de certa forma convergia nossa torcida: o Aimoré de São Leopoldo. Meus pais se separaram quando eu tinha 5 anos, e meu pai tinha uma namorada que morava em São Leopoldo, e ela tinha um filho da minha idade. Resultado: muitos finais de semana naquela maravilhosa cidade e o amor pelo Aimoré plantado como uma linda semente de uma paixão partilhada entre pai e filho.
Os anos passaram e, dois anos atrás, retomei essa paixão indo ao palco de muitas tardes felizes da minha infância, o Monumental do Cristo Rei. Sofri com aquela derrota para o Sapucaiense que decretou nosso rebaixamento para a Segunda Divisão, tive algumas pequenas alegrias no campo, mas a vontade de estar junto com o Índio jamais esmoreceu.
Não tenho filhos, mas tenho um sobrinho que é, entre outras coisas, um filho para mim. Eu já tinha levado ele uma vez ao Cristo Rei, mas uma derrota para o Panambi e a eliminação da competição nos impediu de seguir com esse ritual. Ele tem 15 anos, e sabem que nessa idade tudo é muito efêmero, muito rápido, e se torna difícil sedimentar um amor por um clube que não tem grandes conquistas.
Mas ontem eu fui assiti-lo jogar futsal, e após a partida fomos até o Cristo Rei acompanhar a partida entre Aimoré x Nova Prata, que marcava a estreia do Capilé na Segunda Divisão. Jogo complicado, truncado, sem muitas chances de gol, o que fez com que encarássemos aquela situação de forma leve, brincando e tirando sarro com a partida até meio chata que se apresentava.
Até que no 2º tempo o técnico colocou o Luquinhas na partida, e ele, na primeira jogada que fez, entortou a defesa e cruzou para o centroavante Lucas Silva marcar o gol da vitória do Aimoré. A comemoração do meu sobrinho Nicholas me emocionou, pois me lembrei de momentos que passei naquela arquibancada ao lado do meu pai. De certa forma, aquela comemoração era a consolidação de um amor, de um sentimento bacana de torcer para um clube que não é necessariamente grande, a não ser no amor que cada aimoresista carrega consigo; mais ainda, o meu sobrinho e afilhado torce para o rival do time que eu torço, e novamente o Aimoré vai cumprindo um papel de aproximar duas pessoas com preferências clubísticas diferentes, e torná-los companheiros de arquibancada torcendo para o mesmo time.
Se é verdade que dizem que o que vale na vida são os pequenos momentos, posso dizer que esse pequeno momento, essa pequena comemoração de uma partida nem tão decisiva foi absolutamente marcante para mim. Ainda sou novo e provavelmente ainda terei filhos, mas desde já posso dizer que transmiti algum valor para alguém que eu amo tanto, e acho que isso é algo definitivamente grandioso.
Infelizmente hoje, por aquelas coisas da vida, não compartilho as arquibancadas do Cristo Rei com o meu pai, mas o fato de estar acompanhado de alguém tão importante para mim, e ter feito dele, se não um apaixonado, mas um admirador do mesmo time que meu pai me fez admirar, e mais tarde me apaixonar, me faz sentir com a missão cumprida, na medida em que esse é um dos aspectos mais importantes da relação entre pai e filho: a perpetuação de bons valores.
Feliz dia dos pais a toda a família aimoresista, e a todos que partilham dessa paixão chamada futebol.
Abaixo algumas fotos da partida:
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