Lavada (de futebol e de alma)
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Lavada (de futebol e de alma)



"Mas se o São Paulo ganhar a Sul-Americana, o G-4 vira G-3"; "Acredito que o São Paulo ganha a Sul-Americana"; "Nosso planejamento é chegar em terceiro no Brasileiro, porque o São Paulo vai diminuir uma das vagas para a Libertadores".

Essas foram algumas das frases mais escutadas e lidas quando mídia, jogadores e dirigentes analisavam as vagas para a Libertadores no Brasileirão. Não ouvi alguém sequer citar que a Ponte Preta também poderia tirar uma das vagas, conquistando a competição continental.

"Virgens não podem ganhar", diziam os torcedores são-paulinos, referindo-se à ausência de títulos profissionais da Macaca. E pra arrematar, a polêmica do estádio (assunto que vai render post específico mais adiante neste blog). Todos ingredientes que, se usados corretamente, poderiam trazer vantagem anímica para a Nega Véia. O que ninguém esperava era que todo esse desdém se transformasse num chocolate.

Claro, desse "ninguém" eu excluo a torcida pontepretana. Esses, e disso sou testemunha, nunca deixaram de acreditar, mesmo quando o país todo já apontava o São Paulo como finalista, mesmo quando eram diminuídos pela ausência de títulos, mesmo quando foram violentamente arrancados de seu habitat natural para a partida de volta. Pra essa classe especial de torcedores, que praticam a sublime arte do amor incondicional, a única coisa que importava era apoiar a Ponte, seja no Morumbi, seja pela televisão.

E o roteiro do filme começou tenso: Ganso abre o marcador para o São Paulo, ainda no primeiro tempo. Mas logo viria a reação: jogada pela esquerda, cruzamento/chute de Elias e Antônio Carlos, zagueiro do São Paulo que antes do jogo sabiamente declarou que "futebol se joga em qualquer lugar", fez contra. Ele estava certo: a Macaca dava mostras de que não se intimidaria com a pressão de quase 50 mil tricolores e trataria de jogar o seu futebol.

No segundo tempo veio a chuva; de forma intensa, como para lavar tudo de ruim que tinha acontecido no pré-jogo; como se quisesse limpar toda a sujeira das atitudes covardes contra os pontepretanos; como forma de lavar a alma dessa torcida que acredita sempre.

Leonardo vira o jogo logo no início da segunda etapa, abalando as estruturas são-paulinas. Um amigo que assistia à partida comigo manifestou alegria e incredulidade com a virada que parecia impossível. Respondi a ele: "mas qual a surpresa, se estamos falando de um time que eliminou o Vélez na Argentina? E do jeito que o jogo está, vem mais por aí".

E veio. Não que eu seja adivinho, mas era só olhar pro jogo e ver o desespero tricolor, aumentado pela tranquilidade e valentia do time campíneiro. Porque tem muito time que constrói uma vantagem e senta em cima dela; não foi o caso da Ponte. Aliás, na Argentina também não foi assim. Só para lembrar, se esse blog fala de comportamentos, valentia é um dos principais ingredientes em comum nos times campeões. Nunca vi time campeão ser covarde, e isso certamente a Ponte Preta está longe de ser.

Mas eu falava do gol, que bem poderia ser chamado de tiro de misericórdia. O lateral-esquerdo Uendel entrou na área e bateu forte no gol de Rogério Ceni, que nada pôde fazer depois que a bola desviou. 3 x 1, início do chocolate e consolidação da festa dos pontepretanos, que de alma lavada gritavam "olé" a cada toque de bola do seu time.

Que não foram poucos, diga-se de passagem. Mesmo depois dos 3 x 1, quando o São Paulo foi pra cima e teve chances de diminuir o marcador, nem aí o time de preto deixou de jogar. Difícil exaltar algum jogador específico quando todos tiveram atuação de luxo; além do bom futebol, foram guerreiros e nunca desistiram.

Méritos gigantescos também para Jorginho, que em momento algum pediu para o seu time recuar e segurar o resultado; ao contrário, propôs um jogo de inteligência e posse de bola, querendo frear o ímpeto tricolor através do bom futebol.

Onde essa volúpia vai chegar? Isso não se sabe. Por mais que se tenha conquistado uma bela vantagem, o confronto está longe de uma definição. O certo é que, se repetir a valentia do jogo de ontem, a Ponte Preta tem grandes chances de continuar a fazer história; uma linda história de coragem, de um time valente, lastreado por uma torcida incondicionalmente apaixonada, loucos para gritar, pela primeira vez: "É Campeão"!

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