Seleção Brasileira: a evolução do Modelo de Jogo
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Seleção Brasileira: a evolução do Modelo de Jogo


São incontestáveis os resultados obtidos pela Seleção Brasileira no ano de 2009, principalmente nas competições oficiais em que conquistou o título da Copa das Confederações e a classificação antecipada para a Copa do Mundo de 2010 na África do Sul com uma vitória em Rosário contra a Argentina. Após um ano de 2008 em que o Brasil não marcou um gol sequer jogando em casa pelas Eliminatórias da Copa, a equipe vem apresentando uma evolução considerável e desde a goleada por 6 a 2 contra Portugal (jogo amistoso ainda em 2008) e tem ganho jogos de adversários tradicionais por placares destacados como por exemplo a vitória contra o Uruguai pela Eliminatórias em Montevidéu por 4 a 0 e o 3 a 0 contra a Itália na Copa das Confederações.
Do ponto de vista da dominante tática, pode-se perceber que Dunga abriu mão da rigidez de realizar a recuperação da bola através de uma única plataforma tática e prepara a equipe para organizar-se espacialmente de acordo com a linha da bola aumentando a flexibilidade posicional e a capacidade de adequação às situações problema do jogo. Com essas alterações, em muitas ocasiões do jogo um problema do Brasil (recuperar a bola) tem se tornado um problema para o adversário (não perder a bola) o que muda essencialmente o jogo e a tomada de decisão do mesmo (o adversário).

Figura 1 ? As variantes da Plataforma Tática Matriz (clique para ampliar)

Num momento inicial e pelas características dos jogadores, a plataforma tática que se configura é a 1-4-3-1-2 (figura 1 ? A) que funciona como uma matriz para o aparecimento de novas configurações para as situações do jogo que vão se delineando. E como a partir das situações do jogo, novas plataformas vão se apresentando com regularidade, constata-se que realmente vão além de adequações posicionais da matriz para emergirem como alternativas para resolver as necessidades da equipe principalmente quando está sem a bola.

Quando o adversário inicia a circulação da bola no campo defensivo, o Brasil adianta a primeira linha de marcação até a intermediária ofensiva (figura 1 ? B). Robinho e Elano adiantam-se nas faixas laterais e Luís Fabiano na faixa central com o Kaká também centralizado, porém um pouco mais atrás, formando um grande losango. Duas tarefas parecem balizar esse quarteto: manter a bola em circulação pela linha defensiva pelo maior tempo possível (aumentando as chances de um erro ser cometido e fazendo com que os mesmos tomem decisões precipitadas) e, se o adversário quiser aprofundar o jogo, direcioná-lo para o centro do losango onde sofrerá pressão imediata.

Caso a bola entre nesse espaço e não seja imediatamente recuperada, Elano e Robinho recuam até a linha do Kaká dando origem a plataforma 1-4-2-3-1 (figura 1 ? C). Com essa formação, a referência é direcionar o adversário para as laterais, onde ele será pressionado.

Figura 2 ? O Brasil no campo de defesa e o Balanço Defensivo (clique para ampliar)

Mesmo quando o adversário progride rapidamente, o Brasil consegue defender-se com pelo menos oito jogadores (goleiro + sete) atrás da linha da bola. Caso o ataque rápido ou contra-ataque do adversário seja desacelerado e ele comece a circular a bola na busca de espaços para finalizar (ataque posicional), o Robinho recua um pouco mais e mantem o equilíbrio horizontal da equipe assegurado (figura 2 ? D) apontando para uma outra plataforma, o 1-4-4-1-1, com nove (goleiro + oito) jogadores atrás da linha da bola.

A organização defensiva brasileira enfrenta os seus maiores problemas quando tem que se defender muito próxima a seu gol. E isso não acontece simplesmente pela proximidade que o adversário está da sua meta, mas também porque nesta zona do campo a equipe (Seleção Brasileira) ainda demonstra uma considerável confusão em relação às referências para a marcação. Alguns jogadores mantem as estruturas com referências no espaço, outros acompanham o adversário direto, com pouca coordenação entre esses movimentos. Esse fato leva o Brasil a desorganizar-se e a recuperar a bola (com certa dificuldade e em zonas que não favorecem a manutenção ou a progressão) muito próxima do gol que defende tendo interferência direta na transição ofensiva que fica prejudicada. Nestes momentos do jogo, a Seleção fica em sua maioria na intermediária defensiva, sofrendo alguns ataque consecutivos (figura 2 ? E).

O Brasil tem obtido muito êxito em ataques rápidos e contra-ataques, porém quando o adversário consegue construir situações que o induzem a circular com uma certa freqüência (ataque posicional) alguns problemas são apresentados. O principal deles é no balanço defensivo, que pode ser observado quando a Seleção enfrenta equipes que tem como princípio recuperar a bola e sair rápido para o campo de ataque. Os locais onde o risco é mais evidente nas últimas partidas são as faixas laterais (figura 2 ? F), porque jogando contra equipes compactas, o Brasil busca penetrações por essa região na tentativa de dar melhor amplitude ao ataque.

Com três anos de trabalho sob o comando do técnico Dunga, fica evidente a evolução que a Seleção Brasileira teve desde que ele assumiu. Com menos de um ano para a Copa do Mundo, alguns detalhes ainda podem (e devem) ser acertados. Independente disso, o treinador chegará à Copa merecendo a credibilidade (que ele conquistou com bons resultados) de todos.


Leandro Zago




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