Futebol
Para onde vai o futebol brasileiro
Com a goleada aplicada pelo Barcelona no Santos na decisão do Mundial de Clubes, uma discussão tomou conta dos debates futebolísticos: o que aconteceu com o verdadeiro futebol brasileiro?
As duas respostas mais importantes que Pep Guardiola, técnico do Barcelona, deu após a partida, foi quando perguntado sobre o Brasil e a América do Sul. Ao falar sobre a maneira do Barça jogar, ele disse que o seu time joga da mesma maneira que seu pai e seu avô contavam a ele que o Brasil jogava no passado. Ontem eu vi um DVD sobre a Copa de 70 e atestei que isso é a pura verdade. Aquela Seleção, considerada por muitos como a melhor da história, jogava de uma forma muito parecida ao Barcelona: goleiro mais ou menos, defesa instável, meio de campo inteligente, que diminui espaços, toca a bola e cria muitas oportunidades, um ataque veloz sem um centroavante de referência, e um fora-de-série. Igualzinho. Onde isso se perdeu?
Desconfio que foi em 1982. Aquele meio de campo mágico, de Falcão, Cerezo, Sócrates e Zico perdeu a Copa para uma Itália que jogava um futebol pragmático e objetivo, e que acabou virando referência para times competitivos, inclusive aqui no Brasil. Houve mais uma tentativa em 1986, e fomos eliminados novamente. Nas Copas seguintes, o que se viu foram Seleções europeizadas, inclusive aquela que tirou o Brasil da fila de 24 anos sem ganhar uma Copa, em 1994. A outra seleção vitoriosa, em 2002, tinha Felipão como técnico, que não é exatamente um amante do antigo futebol brasileiro. Em 2006 houve uma tentativa frustrada (por problemas extracampo) de retomar esse futebol que faz parte do nosso DNA.
Mas os resultados em campo nada mais são do que a representação do que fizemos internamente em nosso futebol. As categorias de base estigmatizaram os antigos camisas 10, organizadores e pensadores de jogo, a lentos, enceradeiras, frios e sem espírito coletivo, e condenaram esses garotos ao ostracismo. Um teimoso Ganso carrega esse estigma nos dias de hoje. Em compensação, formamos muitos volantes e zagueiros, que são levados para a Europa como verdadeiro produto do Brasil-colônia. Os poucos talentos que jogam de forma lírica, vão cedo para o Velho Continente e adquirem uma "cultura tática", e só sobrevivem por lá se deixarem de lado esse valores que sempre nortearam o nosso futebol. O exemplo mais bem-acabado desse fato é o Anderson, aquele guri endiabrado que jogava no Grêmio e que virou volante de contenção no Manchester United.
E aí vem a segunda resposta do Guardiola, pra mim a melhor. Perguntado sobre o desequilíbrio econômico entre a Europa e a América do Sul, ele fez cara de surpreso e disse: "Mas que desequilíbrio, se a grande maioria do meu time foi formada em casa, a custo zero?". Esse tapa na cara nos leva a refletir: excetuando Neymar, quem pode ser a referência técnica da Seleção para 2014? Lucas? Pato? Ganso? Todas incógnitas, mas muito pouco para quem historicamente tinha dois ou três times de ponta para vestir a amarelinha.
Então, enquanto tratamos de copiar a Europa para conquistar aqueles títulos que faltaram de 1970 até 1994, eles se preocuparam em copiar nosso modelo de jogo e conquistaram sucesso jogando pra frente. Lembra da Itália de 2006? Foi campeã do mundo jogando com vários homens de movimentação, ofensivos, que buscavam o gol a todo tempo. Fizeram uma final contra uma França que tinha como seu grande condutor um Zidane que fazia o time jogar a seu estilo, e que ainda tinha Henry na frente. Em 2010, a Espanha jogou um futebol parecido com o que o Barça joga hoje, sem poder contar com Messi. Olhem que ironia, os últimos campeões do mundo foram europeus jogando com estilo brasileiro! A própria Alemanha não pára de revelar jogadores com ímpeto ofensivo, como Muller, Ozil e agora Goetze.
E nós jogamos fechado, esperando para sair em velocidade no contra-ataque. O Santos fez isso na final do Mundial (e pra ser sincero, em parte da Libertadores também), a Seleção do Dunga em 2010 fez isso, a do Mano Menezes de agora faz isso, e no Campeonato Brasileiro a maioria dos times faz isso. Não é pouco para uma história de identidade futebolística tão rica? Qual será o tamanho da frustração do povo, cada vez mais apartado de sua Seleção, em 2014, quando jogaremos em casa?
Infelizmente, não existe uma solução de curto prazo, exatamente porque mudamos o nosso comportamento futebolístico. E essa mudança está enraizada em nossas categorias de base, ávidas por formar jogadores altos e fortes, e discrimina os baixinhos habilidosos ou os magrinhos de categoria. Para mim, a chave da mudança é justamente aquele que hoje muitos criticam e xingam de "amarelão": Neymar.
Com seu exemplo, ele já representou uma pequena ruptura no raciocínio vigente na cabeça da molecada que só pensava em ir para a Europa. Ele mostrou que é possível jogar em alto nível no Brasil e, mais importante, do seu jeito. Tudo bem que ele não jogou o que sabe na final contra o Barça, mas as suas palavras após o jogo mostram um rapaz centrado e que sabe exatamente o seu papel como ídolo brasileiro, representante nato do verdadeiro futebol brasileiro. Fato inédito, jogando no Santos foi finalista da eleição de melhor do mundo organizada pela Fifa. Só não foi à finalíssima porque existe um cara chamado Xavi que é um cracaço. O Ganso já tá pensando melhor em sair, o Lucas do São Paulo já disse que só sai para um time de ponta, e por aí vai. O Santos é uma fábrica de craques, e com uma gestão moderna, paradoxalmente está prestando um serviço ao buscar lá no passado a verdadeira identidade do nosso futebol, adaptada aos novos tempos, mas sem deixar de ser o nosso futebol. Quem sabe a partir do caso Neymar, possamos pensar um pouco melhor no comportamento dos nossos garotos na base, e na bandeira que temos que carregar mundo afora para, ao mesmo tempo que referendamos nossa identidade futebolística, conquistamos títulos e formamos jogadores, como sempre fizemos. Impossível? O Barcelona provou que não.
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