Futebol
O show da ignorância
Desde que Galvão Bueno tranformou-se no narrador no. 1 do nosso país, alguns procedimentos típicos do global tornaram-se praxe entre os locutores de outros canais - entre eles, a tal "provocação" aos nossos "arqui-rivais", os argentinos. Para ruir a frágil ponte entre a gozação e a xenofobia pura e simples é bastante rápido; e nisso o no. 1 da Globo é especialista, com seu palavrório sem sutilezas e tom de voz agressivo. Agora que Diego Maradona (foto) é treinador, então, o caminho para as demonstrações de estupidez ficou ainda mais curto, graças às cutucadas que o astro argentino sempre dispensou ao Rei do futebol e à seleção amarela. Portanto, o risco de uma das maiores potências do futebol mundial não ir à Copa do ano que vem foi recebida pelos idiotas eletrônicos com galhofas e chacotas, e não com estupefação. Perde-se o esporte; a piada, nunca.
Digo isso porque, na noite da última quarta-feira (já na madrugada de quinta, para ser mais exato), o narrador do Esporte Interativo, da TV Gazeta (não sei o nome do cara e prefiro continuar sem saber) deu um show de ignorância absolutamente despropositada no VT de Paraguai e Argentina, exibido pela emissora. Já nos lances de perigo guaranis, o sujeito fazia uso de uma gritaria histérica, gratuita e sem sentido, como que para deixar claro que sua preferência pendia para os donos da casa. Aí já começa o absurdo: estamos falando de um profissional, não de um torcedor. O mínimo que esperamos da pessoa que está aos microfones é um comportamento neutro - do contrário, ou se evidencia má-fé ou uma total falta de competência/aptidão para o ofício. Mas o pior viria ao final: decretada a derrota portenha, o cara começou a berrar, a plenos pulmões, de forma convulsiva, desesperada até: "É NOSSO! É NOSSO!". Para além de lembrar o patético "É TETRAAAAA! É TETRAAAAAA!" urrado por Galvão na final do Mundial '94, tal momento mostrou o quão ridículo pode tornar-se uma pessoa ao, para usar uma expressão antiga e menos grosseira que a corrente, "fazer cortesia com o chapéu alheio". O narrador é, por acaso, paraguaio? Porque cargas d'água, então, comemora com tamanha gana a classificação de um time que nem de longe lhe pertence?
Ah, mas respondemos a tal pergunta na lata: é porquê precisamos alimentar a animosidade. Precisamos ser os melhores do mundo, sempre. Não podemos ter rivais, já que somos o "país do futebol". Como alguma outra nação quer se colocar no nosso nível, já que somos tão espetaculares, extraordinários, invencíveis? Às favas a imparcialidade, então. Esse negócio de "os fins justificam os meios" já foi lema para muito regime totalitário e genocida que até hoje estarrecem e envergonham a humanidade. Então, termino com outra questão: quem são os reais arrogantes dessa história?
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