A arte brasileira da corneta
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A arte brasileira da corneta



Entre o final da Copa das Confederações de 2013 e o início da Copa do Mundo, era difícil encontrar alguma crítica à Seleção. O bom desempenho na competição, incluindo uma vitória demolidora por 3 x 0 diante da Espanha na decisão, era o sinal inequívoco de que o Brasil, jogando em casa, faria um ótimo papel esportivo no Mundial.

As críticas todas estavam direcionadas à organização da Copa, à utilização de dinheiro público, à conveniência de se realizar uma competição dessas por aqui. Justas ou não (com certeza várias delas são), fato é que bastou a Copa começar para as críticas cessarem. Claro, difícil criticar uma competição praticamente perfeita, com jogos excelentes, boa organização e quase ausência de ocorrências policiais. Então, as críticas se voltaram ao time.

Elas existem desde a estreia contra a Croácia, quando "ganhamos por causa do juiz". Contra o México, explosão de críticas no empate em 0x0. A vitória contra Camarões amenizou um pouco, mas ainda éramos "Neymar-dependentes". Eliminamos o Chile nos pênaltis e o mundo caiu. Time de chorões, de fracos, "a pior seleção da história" e por aí vai. A mais pura representação da arte brasileira de cornetar. De uma hora para outra, a moda de criticar a Copa se tornou a moda de criticar Felipão e seus comandados.

Primeiro, bater a Espanha já em claro declínio no ano passado não devia ser motivo para tanta exaltação. Resultado normal, que em nada mudaria o curso da história, como de fato não mudou. Depois, o desempenho da estreia foi bom (pra mim, Fred foi tocado). Contra o México, não foi; mas é o mesmo México que quase eliminou a Holanda nas oitavas, quando o Brasil pegou o adversário mais difícil possível (só para lembrar: Holanda, Alemanha e Argentina sofreram muito contra México, Argélia e Suíça, times nem de longe tão qualificados quanto o melhor Chile da história).

Depois, a questão nacional do choro. Virou proibido se emocionar, como se isso fosse a causa, ou o atestado de que nosso time é ruim e que nossos jogadores não prestam. Montássemos uma Seleção fria e distante do povo, não tardaria em surgir críticas quanto à "europeização dos nossos jogadores e a distância deles com a nossa realidade".

A questão é uma só: temos problemas táticos no meio de campo, o que está afundando alguns jogadores, como Fred. O segundo volante tem ficado sozinho contra dois, três ou quatro adversários numa zona fundamental do campo (veja a análise tática de Eduardo Cecconi, no Impedimento.org). Mas nem por isso o Brasil é uma porcaria e seus jogadores não servem. Talvez seja uma questão de ajuste, claro que também passa pelo momento ruim de alguns jogadores (uma coisa pode ser causa da outra ao mesmo tempo); nosso técnico não perdeu a capacidade de treinar um time, claro que não!

A Colômbia é um baita time? É, com certeza, inclusive é o time mais consistente, com as melhores atuações, e que teve as oitavas mais tranquilas da Copa. Mas está longe de ser imbatível; pelo peso da camisa e fator local, nem sei se é favorita, inclusive. Podemos perder? Evidente! Podemos ganhar? Sem dúvida! Assim como a Holanda, França, Alemanha, Argentina...

O que quero dizer é isso, parafraseando Galvão Bueno: é Copa do Mundo, amigo! Não tem como esperar jogo fácil, pra ninguém, contra ninguém. "Não existe mais bobo no futebol", e faz tempo. Não faz sentido tanta corneta, sem que as coisas tenham acontecido ainda. "Ah, eu avisei", dirão, se o Brasil for eliminado. Ok, é um direito que se tem, mas não acho que tenhamos elementos necessários para se fazer uma análise tão cruel e definitiva como a que está sendo feita país afora.

Sugiro que, ao invés de tocar incessantemente a corneta verde e amarela, que guardemos nosso fôlego para cantar o Hino Nacional a plenos pulmões, para gritar pelo time, para inventar e entoar novas músicas nas arquibancadas, que possamos empurrar o Brasil em busca desse campeonato que é possível sim! Se não der certo, aí sim façamos as críticas necessárias, não só em relação ao time, mas à própria Copa, que tem vários pontos a ser discutidos nos próximos meses.



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