Futebol
Meu ídolo, na minha escola, com o meu time!
Esta é uma pequena (ou nem tanto) história de amor e paixão, talvez algo inocente e ingênua como essas histórias devem ser. Fala de idolatria, comportamento, futebol e principalmente carnaval.
Fui apresentado pela minha mãe Beth Silveira à minha escola de samba do coração em uma noite de verão de 2000. Naquele ano, o enredo era sobre os 7 Povos das Missões e a Vila cantava São Lourenço. Lembro até hoje de cor e salteado desse samba, e mal sabia eu que os ensaios vividos na quadra da minha Unidos de Vila Isabel marcariam para sempre a minha história. Naquele ano tiramos quarto lugar, e me apaixonei não só pela Vila, mas pelo carnaval. De lá para cá, passei todos os carnavais em Porto Alegre, com uma ou outra exceção.
Em 2002 conheci um cara que me encantou por sua voz e ainda mais por seu carisma, e logo fizemos amizade. Ele era o intérprete da União da Vila do Iapi e seu nome era Alexandre Belo. Neste mesmo ano de 2002, a Vila Isabel foi vice-campeã por meio ponto, a melhor colocação de sua história, e me lembro até hoje da festa na nossa quadra, junto com minha mãe e meu amigo Marcos Honorato.
No ano seguinte, motivado pelo vice-campeonato, acompanhei a minha Vila Isabel fazer um desfile belíssimo falando de Santa Maria. Mas para minha surpresa, na apuração veio uma punhalada que doeu muito: por conta de um atraso, estávamos rebaixados. Foi um choque para um guri que não sabia nada de carnaval, e chorei muito. No carnaval seguinte não conseguimos subir, e meu time de futebol também foi rebaixado.
Em 2005, chorei novamente por ficar 6 décimos atrás do Império da Zona Norte. Inacreditavelmente ainda não tinha saído na minha escola, e em 2006 isso mudou: saí num carro, vestido de índio no dia do meu aniversário, e fomos campeões do grupo A. Finalmente estávamos de volta ao lugar de onde nunca deveríamos ter saído.
Em 2008, uma alegria dupla: o enredo da Vila era sobre a minha segunda pátria, a Argentina, mais especificamente Buenos Aires. Acompanhei da avenida esse lindo desfile e foi emocionante ligar para o meu primo argentino e fazê-lo sentir a atmosfera porteña na avenida.
Nos anos seguintes, acompanhei a Vila Isabel pela TV. Apesar de sempre sentir um frio na barriga e os olhos úmidos a cada vez que o saudoso Marconi dizia : ?Vem aí, Unidos de Vila Isabel?, confesso que eu estava um pouco desmotivado. Não que meu amor pela escola tivesse diminuído, mas ano após ano era sempre a mesma coisa, e meu interesse durante o período dos ensaios gradativamente ia arrefecendo.
Paralelo a isso, a carreira daquele meu amigo Alexandre Belo ia de vento em popa: campeão em 2007 com o Bambas da Orgia e em 2010 com a Imperatriz Dona Leopoldina. Sempre torci por ele, independente da escola em que estivesse, pois ele para mim era, e é, sem sombra de dúvidas, o melhor intérprete do carnaval de Porto Alegre, além de ser uma pessoa incrível e criador dos gritos de guerra mais emocionantes. Sonhava que um dia ele defendesse as cores da minha escola, mas também sabia que isso seria praticamente impossível.
Até que na metade do ano passado, o impossível aconteceu: recebi uma ligação da minha mãe me dizendo que o Alexandre Belo era o novo intérprete da Vila Isabel. Lembro-me bem de ficar em choque, e depois perguntar assim: ?Mãe, é sério isso, tu não iria brincar com uma coisa dessas logo comigo, né??. E era verdade. E ainda por cima, homenageando o meu time do coração. Era demais para ser verdade.
Por alguns problemas pessoais, não pude acompanhar os ensaios desde o início. Depois do abraço ao Olímpico, muitos amigos que sabem da minha paixão vieram comentar comigo sobre o samba. Mas era como se a ficha não caísse, como se fosse bom demais para ser verdade e alguma coisa daria errado. E no último dia 28 de dezembro, na Imperadores, a ficha começou a cair: meu ídolo era realmente o intérprete da minha escola. Por mais que tentasse impedir, as lágrimas rolaram ao ouvir ?A Pomba vai voar, e de branco pintar todo o azul do céu...? e um filme passou na minha cabeça. Mas ainda faltava algo; claro, faltava ver tudo isso na minha casa, na minha quadra, na minha escola, na minha paixão eterna!
E ontem tudo isso aconteceu: depois de muitos e muitos anos, voltei à quadra da minha Vila Isabel, e tudo passou a fazer sentido. Aquele clima, aquela atmosfera, as pessoas, a música, tudo fazia parte de um contexto muito familiar para mim, apesar de não conhecer mais ninguém da minha época.
Depois de acertar detalhes da fantasia com a qual irei desfilar, o show finalmente começou. Ele estava lá: Alexandre Belo, quebrando tudo no palco com a sua harmonia nota mil, e não estava sozinho: Mestre Chiquinho comandando a Furiosa, a Comishow mandando ver, Passistas, Mulatas, Mestre-Sala e Porta-Bandeira, Baianas, enfim, todo o grupo-show, numa quadra-show, com uma comunidade-show, defendendo uma escola-show.
Saí de lá entorpecido e pronto para os próximos domingos de ensaios. E com a certeza de que, mais além dos resultados e do meu sonho realizado, a verdade é uma só: ?Eu sou da Vila e tenho orgulho de ser?!
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