A Copa à moda da casa
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A Copa à moda da casa



E enfim, a Copa chegou em Porto Alegre. Voltou, na verdade: 64 anos depois, em 1950 nos Eucaliptos, agora no novo Beira-Rio, que por sinal ficou belíssimo, imponente desde a primeira visão.

Apesar de toda estrutura, e do tão propalado "padrão Fifa", a estreia da Copa teve a cara de Porto Alegre, a começar pelas vestimentas do torcedor: camisetas da Dupla Grenal, principalmente do Inter, e claro, da Seleção Brasileira. O resultado foi um colorido bacana no estádio: vermelho, amarelo e azul. Azul do Grêmio, sim, mas também dos franceses e hondurenhos. Ou dos brasileiros que escolheram um time para torcer, como no meu caso, que fui vestindo uma camisa do PSG comprada em Paris pela minha mãe (muito chique hehe).

Essa camisa, aliás, foi o que entabulou uma conversa com um francês, fã do Dely Valdés, atacante que vestiu a mesma camisa que eu estava usando. Nos entendemos num misto de inglês, espanhol, francês e português, trazendo aquele sentido de Copa global, mas ao mesmo tempo local.

Já devidamente instalado, um colorado mal-humorado sentou do meu lado sem a mesma simpatia dos meus outros vizinhos de cadeira. Ao telefone com sua esposa, disse que o estádio estava bonito, mas que não era a mesma coisa se o Inter não estivesse jogando. Pra arrematar, ainda disse que o estádio estava "sem alma". Olhei pro lado e vi franceses cantando, hondurenhos fazendo festa e sinceramente não entendi. Provincianismo ou força da tradição? Talvez um pouco dos dois.

Essa dicotomia, aliás, estava presente nos cantos de "Vamo vamo Inter", e um lá que xingava os gremistas, que sinceramente não entendi o que dizia. As justas homenagens a Fernandão deram um tom especial que os organizadores do jogo não souberam capitalizar. Aliás, antes da ausência de um singelo minuto de silêncio para o F9, houve a ausência dos hinos. Lamentei muito não ouvir a Marselhesa, e juro que passou pela minha cabeça que não teve hino porque a galera iria cantar o Hino Rio Grandense em peso. Mas isso seria muito provincianismo. Ou seria a força de uma tradição? Sei lá...


Durante o jogo, mais rivalidade: os colorados pareciam torcer para Honduras, os gremistas passaram a torcer para a França só para implicar. Não era o meu caso, um apaixonado pelo estilo refinado do futebol francês. Mas ver meu vizinho torcer desesperadamente, aos gritos e xingamentos, para Honduras, me deu ainda mais vontade de gritar "Allez les Bleus" a plenos pulmões. Quando Benzema, o cara que ele qualificava como "fraco" fez o terceiro gol, explodi numa comemoração provocativa, dizendo que ele era "o melhor centroavante do mundo" só para irritá-lo. Puro provincianismo, claro. Ou seria a força da tradição da rivalidade?

A dicotomia também esteve presente na tecnologia: por um lado, não tivemos os hinos por problemas técnicos; por outro, pela primeira vez no futebol e justo numa Copa do Mundo, o uso da tecnologia para resolver um lance duvidoso, e logo com um juiz brasileiro. Muitos elementos históricos para um jogo só, tchê!

No final, a civilidade de ser cult e ter participado de um evento global, mundial, de vários povos; por outro, o orgulho de fazer tudo isso sem deixar de ser gaúcho, de ter a cara do porto-alegrense, com nossos costumes e idiossincrasias intactos, até mesmo para pegar um ônibus no final do jogo.

Ah, jogo, ia me esquecendo: escalei um futuro jornalista, dono de um texto promissor e de uma análise precisa, para falar sobre o jogo e sobre o time que nós qualificamos como "perigoso" nessa Copa do Mundo. Com vocês, Nicholas Silveira analisa a França:

 
Goleada à la francesa:


Seria justo dizer que o jogo foi uma goleada imperdoável e massacrante para a França ? Creio que não, o termo que se encaixaria perfeitamente nessa partida, seria naturalidade; mas por que naturalidade ? Essa é uma pergunta muito simples e óbvia, o time francês é digamos nesse quesito massacrante em relação aos nomes hondurenhos que compõem a escalação. 

Bom, mas não vim aqui fazer estatísticas, gostaria de destacar o time francês do meio para a frente, com o seu quarteto ofensivo: Pogba, Valbuena, Griezmann e Benzema, certo? Errado, nesse jogo em especial o quarteto ofensivo sofreu uma leve alteração com a "saída" de Pogba e a entrada de Debuchy, sim, o lateral-direito, que fez a maioria das jogadas ofensivas dos Bleus, acrescentando velocidade, precisão nos cruzamentos e dribles objetivos. Pogba não comprometeu, porém não vimos hoje, em Porto Alegre, o Pogba que estamos acostumados a ver na Juventus e que interessa ao Manchester United. 

Este jogo em especial foi um bom teste para a seleção, pelo fato de não poder imaginar uma eventual derrota da seleção francesa, tivemos uma boa (e considerável) apresentação do time desacreditado de Didier Deschamps, com muita velocidade, movimentação e objetividade principalmente de Valbuena e Griezmann, suprindo a ausencia de Ribéry. Como os defensores franceses não foram muito incomodados pelos hondurenhos, não podemos tirar grandes conclusões sobre, apenas que me parece uma defesa muito consistente e de tranquilidade, porém peca na saída de bola, fazendo com que seus meias (e não volantes, que devido a sua qualidade deveriam fazer a função) busquem a bola e façam a armação de jogadas. 

Enfim, de uma coisa tenho certeza: essa seleção veio como a Itália, desacreditada de qualquer surpresa, porém se inclui em um grupo tecnicamente fraco e vai, assim como seus torcedores, "fazer barulho" nessa copa.

Nicholas Silveira - estudante de jornalismo



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