O futebol é meu ópio. Dependo demais dele, muito mesmo. Hoje, sofro porque não quero mais lutar por ele ? não se pode ressuscitar algo jazido. Enquanto havia esperança, havia energia e futuro. Ultimamente, escrevo e falo com desânimo. Me enche de tristeza ver as pessoas ainda perdendo tempo com o futebol, vivendo-o como se ainda fosse aquele mágico jogo de alegria.
Hoje é guerra, na carne mesmo. Estão queimando nossas ações, em nome do lucro. Sinceramente, eles venceram, pilharam e nos resta esperar para ver ate onde este câncer vai
crescer sem que tudo exploda pelos ares. A televisão deixou o futebol burro,
muito burro demais.
Talvez eu esteja perdendo meu tempo ao desistir, me rebaixando mais ainda na categoria dos vermes terráqueos. Mas sei que vivi 15 anos gritando contra isso tudo, enchendo o saco de quem convive comigo, alertando ?meio mundo? de que a arte esta sendo derrotada pela mediocridade rentável, a arma do capitalismo contra a vida. E todo esse ódio me levou a solidão e
loucura clinica. Não me falta força ou paciência ? sobra-me desdém a este patético
circo que virou o futebol. E pra que lutar contra um circo, não? Deixem os
pulhas pularem por ai como pipocas, enquanto a semente que gera o sabugo jaz apodrecida
nas galerias das mesas de edições mídias afora. No inicio das mudanças, eu
realmente acreditava que as pessoas iriam se rebelar contra as terríveis
mentiras que construíram esse novo futebol modernista. Que por mais poderoso
que fosse, haveria um limite para a investida do dinheiro nos campos de jogo. Mas
não há. E as pessoas seguem como sempre: escolhendo o caminho da aceitação das
mudanças, sem ao menos filtrar o que se passa por seus olhos e mentes. A vida
segue, seja como for, não? E como uma catastrófica bola de neve, o que era emoção
foi sendo substituído por controle autoritário (das regras de jogo, ações
policiais, etc), festas com limites estabelecidos (parece piada imaginar um
descontrole controlado) e, principalmente, justificativas midiáticas com
efeitos imediatos no senso comum. Qualquer problema que surge e que parece ameaçar
a nova ordem é rapidamente abafado com alguma matéria televisiva idiota,
divertida infantilmente (Globo Esporte!), pouco informativa e que transforma
toda e qualquer ação de qualquer ator envolvido com o jogo (jogador, narrador,
torcedor, dirigente, autoridades) em padrão. Seja isolando aquilo que pode lhes
incomoda ou exaltando (com intensidade que envergonharia ate os faraós) aquilo
que lhes traz dinheiro (tipo esse Neymar aí). Para isso estão aí os Thiagos Leifferts.
E não adianta trocar de canal. Você não vai mais encontrar uma Bandeirantes,
que sempre representara o sentimento simples e direto de que o futebol pertencia
ao povo. Infelizmente, não o é mais. Todos envolvidos, hoje, têm o dever de
seguir (com cabresto e sorriso confiante) este mundinho que a Rede Globo trouxe
para cá, agradando mentores das Nikes, FIFAs e afins. Ai reside a certeza de
que estamos sozinhos nessa luta. Sobrou você, sua consciência e sua dor. A
ditadura não morreu; lamentavelmente, o futebol atual deixa claro isso. E a atuação
do torcedor se encontra absolutamente controlada, regulada ? nem uma bandeira se
pode levar mais aos campos do jogo; quiçá manifestar-se abertamente contra
aqueles que são os proprietários do futebol. Tem mais essa: o futebol hoje tem
dono, amigo! Um, dois ou meia dúzia. Quem deveria mandar no futebol eram as
camisetas dos clubes e, conseqüentemente, os torcedores que viviam por elas.
Todos os clubes se transformaram em reféns desta hecatombe que os obrigou a
encaixar mais seis zeros nos ?salários? de seus novos ?craques?, seus direitos
de imagens e afins. E neste circulo vicioso, a trajetória esportiva, a linhagem
de diferentes estilos de jogo foram todos misturados nesse caos monetário e,
claro, vaidoso por parte dos milionários mimadinhos que deveriam estar ali só
pra ?bater aquela bolinha?, certo? E não é mole ser milionário, filhos. É muita
coisa para manter, cuidar, bens e imagens de celebridades; o futebol tem de
ficar em segundo plano, inevitavelmente. Ate onde vamos parar? Como já escrito,
os canais televisivos não tem mais opção a não ser se enquadrar no novo molde,
pagar salários (também, claro) milionários aos comentaristas que falam cada vez
menos de futebol e esse especializam em parecerem bobos da corte da Idade Media
? entrar na dança, amigo! Promover o super show, abundante desta nova emoção cibernética,
em produção de serie, mega propagandas e vendas à valer. Jogadores, novos
artigos nas lojas, celulares touch-screen, apito de Nextel, tudo se conectando
e se perdendo no ar, automóveis luxuosos, festas excludentes e tatuagens cheias
de simbolismo oco da geração que clama pela revolução, mas não consegue dizer
mais ?bom dia?, ?por favor?, ?obrigado?. O caos da modernidade, onde vive a
bomba atômica. E pensam que o futebol pode sobreviver intacto a tudo isso?
Nunca! Novamente, deixo aqui este recado porque o que entope, vaza. E, dentro
de mim, estou buscando auto-controle e uma saída.
Os deuses da bola devem ter iluminado um ser que esta
vendendo no centro de SP uma porrada de jogos antigos. Já comprei meia dúzia deles,
com fome de bola. Sinto, ao vê-los, um misto daquele deleite que só o futebol
pode trazer e desespero pela certeza de que não há mais aquele jogo. Alias, por
mim, ele poderia ate mudar de nome, sim senhor. Que falta eu sinto da incerteza
no jogo, que não poderia acabar. Havia a duvida no prognóstico do jogo. Narradores
bradavam a inconstância e não tinham medo de errar e de se contradizer, pois
era o jogo que fazia aquela reviravolta eterna. No olho do furacão, a sobrevivência
fala mais alto. Hoje, se muito, como acontece em jogos de vôlei (onde uma
equipe muito superior dificilmente vai perder pra outra inferior), esperam
apenas pelo escore final. Ta difícil imaginar um Ituano vencer um Santos,
realmente. Esta tudo muito controlável, dios mio! È bussiness, catso! Tem de
estar assim! Não podem mais ?errar?, pois há consumidores (e não
mais só torcedores) pagando seus salários e exigindo a diversão que os
ingressos (ou pay-per-views) caríssimos exigem. A ridícula excelência à lá Wall
Street! Mas não somos bestas. Sabemos que num contexto incerto fica quase impossível
garantir o sucesso que bilionários investimentos clamam. E nós aqui, perdidos
nessa roleta do absurdo, onde a bola rola acompanhada de mil cores nas ?chuteiras?
das ?estrelas?. Acreditando que o sonho não acabou ? tolos e maravilhosos irmãos
e irmãs. Vamos caminhando nessa estrada e nos encontrando quando a bola estufa
a rede e o trêm parece se encaixar nos trilhos novamente. Não vamos desistir de
viver. Mas precisamos acordar desse pesadelo e limpar a sujeira que ele deixa pra
trás quando a merda bate no ventilador. A televisão mandava em si mesma, tinha
responsabilidade no seu trabalho e colocava imagens do futebol para torcedores
sem ingresso assistirem aos prélios. Hoje ela manda no jogo, mermão! Ela tem
responsabilidade nas fintas, nos carrinhos (ou na Inquisição dos mesmos), nas comemorações...
em tudo! E tudo pelo dinheiro, não pelo espírito esportivo. Acham que podem
vencer isso tudo? Boa sorte, então!
*No Inferno, a gente abraça o Capeta, pois eis minha cota diária de egocentrismo também: um vídeo feito
por dois amigos da várzea, sobre futebol e loucuras. Rafael, becão de fazenda revolucionário
e Rodrigo Erib, ponta craque de bola, que só se atira ao solo quando não há mais
outra opção. http://cevadanavuvuzela.blogspot.com/2011/03/episodio-xii-fernando-toro-e-baden.html
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Aconteceu uma coisa bem interessante comigo, sábado a noite. Fui a uma festa familiar e, antes de sair de casa, senti a temperatura gelada. Corri até o armário, encontrando um cachecol da Seleção Argentina. Pouco o uso, de fato. Mas cabia perfeitamente...
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Na maioria das vezes, o fogo das revoltas se apaga sozinho porque lhe falta o combustível apropriado. E este só é de propriedade daqueles que pensam sentindo a bomba funcionando. Desta vez não é apenas uma descontrolada revolta, senão uma justificada...