O desenho do jogo virou quadrado, quebrado, marcado, delimitado, regulado e chato. Os laterais fazem todos a mesma coisa (aqui ou na Europa; ganhando ou perdendo o jogo), os meias (que ainda sobraram) idem, assim como os avantes (filhotes ou não da regressão fenomenal que a jaqueta 9 sofreu). Na zaga, o negocio é isolar como faria um Ronaldão, mas sem esquecer-se de fazer pose para a foto. Da pra acreditar? Isolada com categoria! É como comer um biscoito com o cu e cagar com a boca. Onde estaria aquele jogo constante, alucinante, de perder o fôlego, de chutes, toques e fintas? Onde estaria a liberdade de se jogar futebol? Como pode-se supor, há as excessões, mas que se apresentam cada vez menos aos nossos olhos. Raramente um jogador passa pelo outro, e as infinitas e virtuais trocas de passes fazem do futebol hoje um jogo que, muitas vezes, fica tão chato quanto o beisebol - prática esportiva de geometria (e liberdade) obviamente limitada. Outra raridade é ver um marcador encostar no rival sem receber cartão - o que também carrega limites quanto ao desenho da atuacão dos players. Alias, estão destribuindo cartões e expulsando pessoas do campo por qualquer coisa. Futebol virou um museu de cera protegido pela Tropa de Choque do PSDB. A expulsão do jogador do Arsenal contra o Barcelona (musa dos alienados, mas que não me empolga como o Estrela Vermelha de 91) foi constrangedora. Mas ocorreu porque o árbitro, macaco de circo da nova FIFA S.A., mostrou o segundo cartão amarelo quando a bola foi chutada depois do jogo paralisado. Sem nenhuma briga, nenhuma bofetão, sem atmosfera amedrontadora (afinal, falamos aqui de espetáculos para a elite): um player é retirado de campo simplesmente porque não se adaptou, porque criou atrito entre a imagem que seduz e o lucro que apodrece a alma, desafiou o controle do jogo, movido por uma subconsciente cordenacão motora de chutar uma bola de couro. E o campo estava cheio de bolas ao seu redor - como vem acontecendo desde que Farah cuspiu mais essa idéia pro alto antes dela colar na testa da FIFA - tanto que uma delas chegou rapidinho ao mesmo local onde o árbitro ainda punia o "infrator". A expulsão que (no máximo) serviria para uma aula de educacão física infantil - onde se faz necessário o exemplo e o ensinamento, aprender, tomar contato, discernir entre o certo e o errado - foi transportada para a fase final do Campeonato Europeu de profissionais! Portanto, não chute mais a bola antes de pedir permissão, pois não há mais espaco pra livre arbítrio no futebol. Quando crianca, eu ia ao campo esperando ver carrinhos, choques... porrada mesmo! Como fazem os fanáticos do automobilismo, que esperam uma batida emocionante nas pistas. Estão sufocando o futebol, destruindo tudo aquilo de belo e forte que ele nos deu. Esse é o futebol mercantil, da Globo, dos super-stars balofos e mimados. Não é mais o jogo para quem nasceu para aquilo, e sim o jogo para quem se graduar e souber chupar sacos dos covardes manda-chuvas do nosso jogo lamacento.
Há cores inaceitáveis no futebol. Há cores que você não se importa de carregar na sua bermuda de praia, ou na fantasia do carnaval, mas nunca no futebol! Incomoda-me imaginar um concerto do Black Sabbath vestido de Restart, como tem sido os prélios de futebol modernos. O arco-íris das chuteiras dos ?jogadores? de hoje não só ofende os amantes da bola, como caracteriza uma tremendo desrespeito a regra do jogo, que obriga aos players se apresentarem uniformizados ? e não carregando cada um sua bandeira e sua cor na vitrine do ridículo. O uniforme totalmente enterrado com sua tradição e carregado de novas (e muito suspeitas) tendencias. Assisti a um teco de um jogo do América carioca e seu excrete parecia de alguma forma surreal em campo, todo de vermelho, cheio de patrocínios e sem nenhum craque de bola. E o America não é o Vila Nova, é o America, porra! E tem que continuar sendo! Quando toda a poeira baixar, poucos tons serão tão vitais quanto os mais simples e diretos.
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Milagre! Estou desfrutando vários jogos dessa Libertadores, ironicamente de posse hoje de um banco espanhol (o retorno de Pizarro!). O jogo esta melhorando? Nem de longe, amigos. Eu estou melhorando? Probabilidade baixíssima. Mas há uma coisa nessa Copa que me interessa bastante: a loucura. Aproveitemos enquanto é tempo. Boa passagem a todos. Nos vemos onde a geometria, o tempo e as cores farão sentido novamente. Morte ao futebol moderno!
Para Afonsinho... esse sabe das coisas.