O Narrador SEN-SA-CIO-NAL
Futebol

O Narrador SEN-SA-CIO-NAL




Nasci em 1982. Podem vocês não acreditar, mas desde muito cedo vêm as minhas reminiscências sobre o futebol: em 1986, com 4 anos, me lembro da festa que alguns familiares argentinos fizeram em minha casa comemorando o título da Copa do Mundo. Em 1987, lembro da decisão Inter x Flamengo; em 1988, da decisão Inter x Bahia, além da decisão do Gauchão, e por aí vai.

Desse modo, a voz que me fez amar esse esporte foi uma voz marcante, inconfundível, inimitável. Um simpático senhor com cara de bonachão, que tinha dois bordões repetidos à exaustão nas minhas narrações de futebol de botão ou mesmo jogando bola: tudo era "SEN-SA-CIO-NAL", e as grandes jogadas ganhavam a alcunha de "QUE LANCE!", marcas registradas do inigualável Celestino Valenzuela, a voz do futebol da minha infância.

Algum tempo depois, ele acabou se aposentando, vieram outros narradores, mas a primeira voz do meu futebol de criança nunca foi esquecida, por mais tempo que ele tenha ficado fora da mídia. Por sorte, esse tempo um dia teve fim: primeiro no Lance Final, onde os melhores lances da rodada ganharam a saudosa alcunha "Que Lance"; depois, ele participou da narração dos jogos de inauguração da Arena e do novo Beira-Rio.

E aí, as talentosas jornalistas Rafaela Meditsch e Eduarda Streb prestaram um verdadeiro serviço à manutenção das minhas memórias futebolísticas (e de muita gente): juntaram as histórias deliciosas deste ícone da narração, e transformaram num livro maravilhoso, que leva o título de seu bordão mais famoso.

De 1982 para cá, eu conheci, ainda na infância, um clube de uma outra cidade chamado Aimoré. Durante a minha adolescência, fechado para o futebol, nos afastamos; até que na minha fase adulta, esse amor plantado lá nos meus tempos de guri voltou com toda a intensidade. Com este clube, comemorei título inédito, acesso à elite do futebol gaúcho, chorei e sofri algumas vezes, é verdade, mas reconstruí uma história e uma identidade de torcedor que havia ficado perdida na minha infância, jogando bola pelas ruas de São Leopoldo.

E eis então, que a minha trajetória colide, no melhor sentido, com o cara que narrou os primeiros jogos a que assisti em minha vida: descubro, maravilhado, que o cara, ou melhor, um respeitável e ativo senhor, "A Voz da Minha Infância", é torcedor do mesmo clube que eu. Mais do que isso: totalmente engajado com a causa, ele já havia participado de um evento de torcedores em 2009, mas na sua volta à mídia, capitalizou tudo isso em nome do Aimoré.

Esse clube é tão grande, senhores, e reúne uma torcida tão apaixonada, tão intensa, tão vibrante, que mesmo com todo o tempo que permaneceu fechado, a chama capilé jamais se apagou. Renova sua torcida, passa esse amor de pai pra filho, atrai pessoas de outras cidades, hipnotizados por esta imensa paixão. Uma vez que se torce pro Aimoré, jamais se deixa de torcer para ele, ainda que não dispute nenhuma competição durante 10, 20 ou 30 anos.

E essa premissa ficou totalmente demonstrada na noite de ontem: a Confraria Índio Capilé teve a felicidade de fazer o lançamento do livro sobre Celestino para nós, aimoresistas, gente como ele, como eu, como todos nós que estávamos lá (aliás, livro este que é um espetáculo, leitura obrigatória para todos os amantes do futebol!). Mas não foi um simples lançamento de livro: foi uma profissão de fé, foi um ato de amor, estampado no rosto daquele simpático senhor, e de todos os presentes.

É um amor que impressiona a quem vem de fora: a Rafaela Meditsch, uma das autoras, estava visivelmente emocionada com tamanha prova de carinho em relação ao nosso ilustre torcedor; a Duda Streb ficou empolgada ao ver a forma com que Celestino se tornou um dos nossos. Ali, naquele momento, ele não era o homenageado; ele era mais um dos torcedores aimoresistas, orgulhosos de torcer para este time, convicto de que, como ele diz, "pessoas inteligentes torcem para o Aimoré".

E quando chegou a sua vez de falar, a emoção tomou conta de todos os presentes. E foi nesse momento, gravando o vídeo que compartilho com os amigos abaixo, que vi a minha história de torcedor passar por diante dos meus olhos. O cara que me iniciou no futebol, estava ali, professando seu amor pelo mesmo time que o meu. Muita coisa para um tolo sentimental, que tão logo terminou de filmar, teve que ir ao banheiro para se recompor de toda aquela emoção.



Se alguém tinha alguma dúvida de que ele é um de nós, momentos depois ele fez questão de usar o cocar do Índio Elias, enquanto todos entoávamos nossos gritos de guerra de tantas e tantas batalhas pelas canchas do Rio Grande afora. E eis que tudo fez sentido: todo o propósito de estarmos reunidos ali, em nome dessa paixão que temos, estava perfeitamente justificado na emoção da Voz que tanto nos emocionou.

Muito obrigado, do fundo do meu coração, a TODOS os que fizeram possível que eu reencontrasse, de forma tão intensa, o meu passado, presente e futuro, todos juntos, fazendo todo o sentido de existir. O que eu faria se tu não existisse, Aimoré?
    



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