Jogos Imortais - por Rafael Garcia de Oliveira
Futebol

Jogos Imortais - por Rafael Garcia de Oliveira







Eu começo a escrever esse texto com a nítida impressão de que o terminarei sob lágrimas. Não escrevo sobre uma construção, sobre um gol, sobre um campeonato: a minha VIDA deixa um pedaço enorme de saudade por lá, independentemente de ter sido na boa ou na ruim. Não é que o Olímpico tenha uma alma, que não acredito nessas coisas: é que minha história como gente passa por aquilo lá. 

 Em 1996 eu tinha 16 anos, os cabelos compridos, milhares de certezas,ideias e medos sobre meu futuro na cabeça e uma paixão  pelo Grêmio que me consumia o pensamento muito mais do que deveria. De uma certa maneira, era fácil ser gremista - digo 'de uma certa maneira' porque, contrariando minha própria tese, nunca foi fácil ser gremista, mesmo nas melhores fases. Eu vivia com a mesma intensidade com a qual torcia - deve ser comum ao jovem, né? E deve ser por isso que a gente ainda dá tanta bola, se morde tanto e exulta tanto com o futebol: ele traz um ar de juventude à nossa vida (mesmo quando, na juventude, o nosso time mais nos maltrata do que ajuda).

 Foi assim que, em dezembro de 96, num domingo de calor, eu me preparei pra ver uma daquelas finais que passavam pelo Olímpico naqueles anos 90. A fase da vida não era lá grandes-coisa, mas sempre havia o Grêmo - e sempre havia o Olímpico. Eu, meu pai e meu tio - meu núcleo afetivo torcedor - aproveitamos a sombra da Social e, por umas três horas, esperamos a decisão do Brasileirão daquele ano. Numa final surpreendente, o Grêmio, oitavo colocado na fase classificatória, atropelou Palmeiras e Goiás, jogaria contra a surpreendente Portuguesa, a Regina Duarte do futebol - todos pela Lusa, todos contra o Grêmio (pelo menos naquela ocasião).

 O Olímpico rugia. O Grêmio começava o jogo com a obrigação de vencer por dois gols de diferença. A ida, no Morumbi, foi sofrível, e a torcida abarrotou o velho casarão, e o preencheu física e emocionalmente. Um caldeirão que deu resultado: foram os dois primeiros minutos mais alucinantes que eu já presenciei num estádio. Felipão atirou o Grêmio pra cima, e foi uma pressão absurda, bola na área, escanteio atrás de escanteio, que culminaram num gol do Paulo Nunes de saída. Aquele ímpeto se manteve, mas abriu espaço para a Portuguesa - e eles quase empataram. Era AQUELA decisão típica, jogo lá e cá, pressão da torcida, jornalismo esportivo parcial (opa!), até que, em meados do segundo tempo, Dinho, um símbolo da raça (e da técnica, que muitos, por conveniência, esquecem) simplesmente pediu alteração. NINGUÉM entendeu aquilo - ainda mais a entrada de um contestado Aílton, como se ele pudesse mudar a história daquele jogo.

 E mudou! A bola alçada pelo Carlos Miguel tinha como destino, na área, um daqueles centroavantes que não existem mais(o Zé Afonso) mas encontrou a cabeça de um zagueiro marcador, de quem me foge o nome, agora. Mais preocupado em se livrar dela do que jogar - a PORTUGUESA ESTAVA SENDO CAMPEÃ, não esquece - ele simplesmente 'cocou' pra frente. Ali, naquela cocada, 50000 gremistas colocaram o pé no chute. TODOS chegaram pra decidir - menos o chato da Social que, minutos antes, atirou um MotoRadio amarelo no chão e foi embora, praguejando contra os 'cabeças-de-bagre do Felipão'.

 Eu vi o gol. Eu fui testemunha do acontecimento. Vi o gol, mas não vi o resto - eu, nos meus intensos 16 anos, caí num choro convulso, e não vi o resto do jogo. Não vi o recém-falecido Alex Alves, um cara de brios, que jogou MUITO naquele dia, se enfurecer após o apito final. Não vi meu pai e meu tio, meus mentores na arte de torcer, comemorarem com a massa o apito final, que tem mais cara de orgasmo do que o próprio gol - mas consegui levantar a cabeça e, entre lágrimas, consegui ver o Dinho voltar a campo e erguer aquela estranha taça do Brasileirão. Não vi o resto do jogo porque, naquele concreto escuro, além de haver uma sombra que me albergava, me senti de maneiras tão intensas (pro bem ou pro mal - também chorei depois de perder para o Corinthians, em 1995) que HOJE, 27 anos depois do meu primeiro jogo (um Grêmio x Fluminense, vencido com um gol do Lima), eu tento racionalizar e não consigo - e tão intensas que, só de lembrar disso, eu realmente não me contenho...

 P.S: eu ainda não me achei nessa mudança. Ainda não acredito que deixarei de, em algumas noites de quarta e tardes, quentes ou frias, de sábado/domingo me dirigir a um lugar que, na minha infância, era o outro lado do mundo, e hoje é caminho do meu trabalho. O Olímpico é das poucas coisas que permaneceram da minha adolescência. As minhas crenças, os meus sonhos, todos mudaram - e o sentimento de pertencer àquela casa não. Desculpem, mas eu REALMENTE não pertenço (ainda, eu acho) à Arena. Eu pertenço ao Grêmio, como ele (ainda, eu acho) pertence ao Olímpico que pertence ao Grêmio...



FICHA DO JOGO > GRÊMIO x PORTUGUESA

Local: Estádio Olímpico
Data: 15/12/1996
ÁRBITRO: Márcio Rezende de Freitas


GOLS

Paulo Nunes e Aílton (Grêmio)


SUBSTITUIÇÕES - GRÊMIO

Entrou Luciano, saiu Rivarola.
Entrou Aílton, saiu Dinho.
Entrou Zé Afonso, saiu Émerson.


SUBSTITUIÇÕES - PORTUGUESA

Entrou Flávio, saiu C. Roberto.
Entrou Tico, saiu Rodrigo Fabri.


GRÊMIO (2) PORTUGUESA (0)
DANRLEI CLÊMER
ARCE VALMIR
RIVAROLA MARCELO
MAURO GALVÃO CÉSAR
ROGER C. ROBERTO
DINHO CAPITÃO
GOIANO GALLO
ÉMERSON CAIO
CARLOS MIGUEL ZÉ ROBERTO
ZÉ ALCINO ALEX ALVES
PAULO NUNES RODRIGO FABRI
Técnico: Luiz Felipe Scolari Técnico: Candinho








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