A mistificação nossa de cada dia
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A mistificação nossa de cada dia


Adriano ganhou a "Bola de Ouro" do Campeonato Brasileiro. Claro que muitas outras premiações ainda irão ocorrer, uma mais discutível do que a outra (assim como são todas as entregas de prêmios, diga-se), mas essa é a que toma um vulto maior porque é a que acompanhamos desde tenra idade, e a que sempre demos mais importância. Existia um "romantismo" no prêmio entregue pela revista Placar que foi definitivamente enterrado - esses ano eles queriam porque queriam uma grife; eis aí a que sobrou, já que Ronaldo mal jogou 1/3 das partidas corinthianas e, pelos critérios de avaliação, foi desconsiderado entre os concorrentes (para evidente desespero dos redatores do veículo, que continuaram a atribuir notas altíssimas ao "Fenômeno" mesmo em suas partidas ruins). A coroação do "Imperador" veio a reboque da aclamação quase unânime deste certame como "o melhor de todos os tempos" - e a presença de jogadores-etiqueta como esses dois já citados mais Fred e Vagner Love, que tanto vestiram a camisa amarela, praticamente obrigava a mídia a cair de quatro para o Brasileirão 2009, independente do resultado deste. Essa foi a competição na qual estavam repatriados, mas ainda com o olho grande na Europa, os "grandes atacantes da nossa seleção" - e assim ela foi vendida, como o troféu dado a Adriano deixa absolutamente claro.

Só que o que mais me deixa perplexo no tal prêmio é observar a legitimação de uma espécie de salvo-conduto para aqueles rotulados como "craques", e que praticamente os blindam de críticas ou contestações. Aquela história de "matar um leão por dia" não existe mais: agora, se você já possui status de grande jogador, pode-se ficar o tempo todo na farra, passar diversas partidas a jogar mal e exibir uma máscara desgraçada nas aparições públicas que manterá a pose de gênio sem nenhum esforço - os outros se esforçarão por ti em mantê-lo no topo, sejam eles assessores de imprensa, companheiros de time, cartolas ou apresentadores de TV. Vejo jogos de Robinho e Alexandre Pato, por exemplo, e noto, com estarrecimento, que basta os mancebos acertarem alguns passes para que aquela seja considerada uma "boa partida" dos dois pelos grandes analistas, aqueles que entopem seguidamente nossos ouvidos com dejetos e mistificações. Sua condição de "estrela", sua presença na seleção ou mesmo na titularidade de seu time nunca é posta em dúvida - eles permanecem intocáveis em seus pedestais, deitados com conforto na cama que para eles foi feita.

Se eles (não só os da palavra escrita e dos microfones, mas também os da amortizada opinião pública) enxergam tal protecionismo como a saída para um futebol carente de maiores referências, não parecem ver é que é aí que a cobra morde seu próprio rabo: criam-se somente heróis falsos, de plástico, já que todos os verdadeiros ídolos são aqueles que também sabem lidar com seus revezes. Esses que aí estão só querem saber de sucesso porque são mimados por todos os lados para assim serem - e a mídia não só se alimenta disso, como também joga a rede salvadora para as possíveis quedas (até porque tomar uma posição mais radical significa colocar o deles na reta - e disso os "profissionais" fogem como o Crambulhão da cruz). Daí, se não houver nenhum tipo de reação (o que duvidamos), surgirão gerações ainda mais birrentas e mal-acostumadas que a atual (o exemplo, bom ou ruim, sempre frutifica). Quando chegar o dia em que um jogador não precisará mais correr ou sequer suar, eu não ficarei nem minimamente surpreso. E a covardia prossegue.



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