Serra "Pano de Barco"
Futebol

Serra "Pano de Barco"


Uma das formações do Sampaio Corrêa de 1959/60. Em pé: Zé Raimundo, Milson Cordeiro, Vadinho, Maneco, Macaco e Decadela; Agachados: Nilson, Fernando Pernambucano, Serra "Pano de Barco", Canhotinho e Pinagé

Matéria de Edivaldo Pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão, de 07 de Agosto de 2000.

Na infância, quando todos os garotos eram apaixonados por futebol, Serra vibrava com bons filmes e se espelhava nos grandes atores de 1940/50. O futebol surgiu por acaso na vida dele, que estava prestes a completar 20 anos de idade. Jogava sem uma posição fixa. Certa vez, improvisado no gol, vestindo uma camisa de cor berrante e bem folgada, magro na hora de abrir os braços, dava a impressão que seria carregado pelo vento. Um torcedor resolveu batizá-lo de ?Pano de Barco?. Atuou principalmente pela lateral-direita. Depois de defender várias equipes amadoras de São Luís, se profissionalizou e rodou por clubes de ponta do Maranhão, Piauí e Rio de Janeiro. Hoje, longe do futebol, se dedica a servir a Deus.

Em 1940/50, a brincadeira natural da garotada era o futebol. Não faltava espaço para jogar. Em todos os bairros da Ilha de São Luís tinha uma salina ou uma quinta, que acabavam virando um campo. O grande time maranhense da época era o Moto Club. Contrariando a normalidade do período, o garoto Benedito Vicente Serra, ludovicense e nascido em 05 de Abril de 1930 no Bairro da Madre Deus, filho dos rosarienses José Maximiano Serra e Joana Francisca Serra, acabou optando por assistir filmes no cinema. Sem condições de comprar ingressos, não se envergonhava em varrer os cinemas em troca de entradas. Indo aos cines São Luís (que depois se tornou conhecido como Rialto ? Rua do Passeio), Olímpiada e Rival (que ficava na Rua Grande), aprendeu a gostar dos grandes astros e estrelas da época. ?Eu sonhava em ser um daqueles galãs. Gosto de relembrar os nomes deles e a situação em que viviam e como vivem até hoje. Tenho catalogado na memória e no papel mais de 350 nomes de atores e atrizes do cinema nacional e internacional?, conta ele, mostrando que gostava mesmo da situação dos astros, que contracenavam com grandes estrelas, ?mulheres verdadeiramente nota 10?, segundo Serra. Todo dinheiro ganho era investido em roupa e adereços que pudessem lembrar seus ídolos do cinema.

Em 1950, quando já estava prestes a completar 20 anos de idade, sem chances de vencer na carreira artística, resolveu jogar futebol. ?Foi um início fácil. Jafé Mendes Nunes, radialista e técnico de futebol de salão e campo, me chamou para jogar como lateral-direito ao lado de verdadeiros craques: Caroba, Rui, Xavier (Peru), Gimico, Garcia, Moacir Bueno, Leôncio, Lelé Rodrigues e Calango (apelido do ex-atleta e árbitro profissional Wilson de Moraes Wan Lume). Todos esses feras jogavam no Tupi, do Bairro do Caminho da Boiada. Fomos campeões da segunda divisão e passamos a disputar o Campeonato Estadual da Primeira Divisão?.

Em apenas um campeonato Serra mostrou todo o seu potencial e acabou sendo convidado para jogar no Maranhão Atlético Club. Era a grande chance de se jogar um profissional de futebol. ?Fui contratado para jogar no MAC na mesma posição do Tupi. Com o passar do tempo, acabei virando uma espécie de coringa, que se dava bem em qualquer posição? Confessa que o seu maior objetivo era estar no grupo e defender o clube.

Com habilidade nata, o inteligente Serra se adaptou aos esquemas táticos do futebol. Tinha um físico privilegiado e seu fôlego de gato permitia que corresse o tempo todo em campo. Jogava falando, orientando e, às vezes, xingando os companheiros. Chutava muito bem com as pernas direita e esquerda. Walfredo Maranhense, ex-companheiro de Sampaio Corrêa, relembra: ?Com ele a bola corria. Sabia cadenciar o jogo quando era preciso?.

Serra jogou no MAC no período de 1952 a 1958. Durante esse tempo, conheceu muita gente boa que passou pelo clube. Cita Derval (goleiro), Rabelo ?Carne Assada?, Batistão, Jejeca, Marianinho, Arel, Reginaldo Menezes, Mucurão, Coelho, Nélio, Moraes, Edson Moraes, Rego, Nonato, Xavier (Peru), Laxinha, Durvalino, Nunes, Kid, Calazans, Zé Ferreira, Cural e outros. ?Muita gente passou pelo MAC e eu fui ficando. Acabei me tornando o líder do time. Pena que não tenha conseguido o título. O máximo que alcancei foi ser vice-campeão nas temporadas de 1956/57?, relembra.

No final de 1957, aconteceu uma coisa marcante na vida de Serra. Por não concordar em pagar pensão alimentícia à mulher que vivia com ele na época, acabou sendo predo em uma quarta-feira. No domingo o MAC iria jogar com o Moto. Deram um jeito de soltá-lo momentos antes da partida. Veio a vitória por 4x1. Cural e Moraes fizeram i gol cada e Serra fez dois. O gol do Moto foi de Aracatu. É evidente que depois do feito ele foi posto em liberdade.

Em 1958, ?Pano de Barco? trocou o MAC pelo Sampaio Corrêa. Juntamente com Fernando Pernambucano, Vadinho, Peu, Zé Carlos ?Barca Furada?, Jereba, Milson Cordeiro, Zé Raimundo, Macaco, Nonato Cassas, Canhotinho, Regino e outros, deu muitas alegrias à torcida sampaína. ?Serra era cheio de molecagem nas concentrações. Gostava de andar engomadinho e adorava cantar em castelhano. Fazia coleções de revistas e dizia que era um artista. Nós o chamávamos de La Sierra por conta disso tudo?, relembra Milson Cordeiro, companheiro no Sampaio.

Em 1961 o Sampaio Corrêa foi campeão estadual. Serra jogou apenas o primeiro turno porque foi negociado com o Auto Esporte do Piauí e chegou a ser vice-campeão estadual e jogou na seleção piauiense.

Em 1962 retornou a São Luís e jogou no Graça Aranha Esporte Clube (GAEC), que havia subido da primeira divisão para a divisão especial. Um ano depois, foi tentar a sorte no Madureira do Rio de Janeiro, quando já estava com 32 anos de idade. ?Era difícil tentar a sorte nessa idade. Uma ótima experiência que infelizmente não deu certo?. Em 1965 Serra voltou novamente a São Luís, como técnico do GAEC. Implantou o sistema tático 4x2x4 e chegou a ser campeão de um torneio chamado ?Torneio da Morte?. Gostou da experiência e acabou dirigindo por vários anos equipes profissionais de São Luís, Teresina e seleções de cidades do interior do Maranhão que participavam do Torneio Intermunicipal.



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