?Temos ainda que caminhar bastante no entendimento, na
sistematização dessas coisas, no sentido de perceber as suas
conexões e de entender o Jogo como um fluxo contínuo.?
(Júlio Garganta)
Pertencente ao grupo dos Jogos Desportivos Coletivos (JDC), o futebol tem na sua essência quatro momentos que estão presentes em qualquer partida que seja disputada e que independem do nível, local ou idade dos praticantes (desde níveis de formação até jogadores profissionais) envolvidos: defesa, transição defesa - ataque, ataque e transição ataque ? defesa. A natureza complexa e não linear do jogo não permite que seja prevista a ordem em que esses quatro momentos irão ocorrer, fazendo com que cada partida possua uma linha de progressão única que vai se desenhando de acordo com as respostas coletivas das equipes e individuais dos jogadores aos estímulos do jogo. Essa afirmação vem ao encontro do que escreveu o professor Vítor Frade (2002), ?não há nada mais construído que o jogar. O jogar não é um fenômeno natural, mas construído?.
Ou seja, se o jogo vai sendo construído, e os dois momentos de transição são inerentes a ele, temos a possibilidade de preparar nossa equipe durante o processo de treinamento para realizá-las da forma como considerarmos mais adequado. Para Amieiro (2005) ?treinar é fabricar o jogar que se pretende?. E para se treinar as transições defensivas e ofensivas são necessários princípios de jogo bem estabelecidos. Quando recupera a bola, a equipe deve saber se é o momento de contra atacar, tirar simplesmente a bola da zona depressão ou alternar entre ambos de acordo com o comportamento do adversário. Ao perder a bola, deve-se definir referências para pressionar o portador da bola rapidamente, reorganizar-se em linhas mais recuadas ou coordenar as duas respostas numa análise rápida da situação que o jogo está propondo.
Treinadores portugueses como José Mourinho e Jesualdo Ferreira concebem os momentos de transição como fundamentais dentro do jogo de futebol. Jesualdo considera que ?as equipas terríveis (utiliza terrível para caracterizar equipes difíceis de se enfrentar) são aquelas que diminuem o tempo entre o ganhar a bola e atacar e entre o perder a bola e defender?. Vítor Frade (2002) afirma que para uma equipe atacar com muitos jogadores sem tornar-se desequilibrada deve ?dar particular atenção aos timings de transição?. Nota-se nas falas de Jesualdo e Vítor Frade uma preocupação com o tempo no sentido de duração do momento transitório. Assim, na tarefa transição, observa-se o como fazer nos princípios anteriormente citados e o quando fazer (entre o atacar e o defender e vice-versa) da forma mais rápida (e para isso faz-se necessário coordenação coletiva) possível.
Construir uma forma de jogar que seja condizente com as necessidades de se ganhar um jogo atuando de uma forma atrativa ? porque para ser eficiente uma equipe não precisa abrir mão de jogar bonito, muito pelo contrário ? passa pela sistematização de um processo de treinamento que contemple os quatro momentos do jogo de forma integrada. O modelo de jogo adotado deve racionalizar que as zonas em que busco recuperar a bola com maior freqüência devem estar relacionadas com o tipo de organização ofensiva que pretendo utilizar e que a forma como se realizam as transições defensivas e ofensivas permitem o melhor ou pior funcionamento desse sistema integrado de ações que se sucedem sem uma ordem definida. Por não possuir um comportamento linear, o jogador deve ser capaz de interpretar os acontecimentos do jogo e aplicar uma resposta que esteja baseada nos mesmos referenciais que o restante da sua equipe e isso só acontecerá se durante o processo de treinamento os exercícios pelo grupo vivenciados potencializarem esse sentido coletivo.
Referências Bibliográficas
Amieiro, N. (2005) Defesa à Zona no Futebol: Um pretexto para refletir sobre o jogar
Frade, V. (2002) Apontamentos das aulas de Metodologia Aplicada II, Opção de Futebol. FCDEF-UP. Porto. Não publicado.