Futebol
O presidente que não gosta de sua casa
A Zero Hora de ontem publicou uma entrevista contundente do Dr. Fábio André Koff, presidente eleito do Grêmio (clique aqui para ler: Entrevista de Fábio Koff), onde, entre outras frases de efeito, ele diz que a Arena do Grêmio não é do Grêmio, que o clube demorará 20 anos para pagá-la, e que o negócio em si não é tão bom para o clube. Muitos gremistas ficaram surpresos, e eu não me incluo entre eles. Afinal, é público e notório o repúdio de Koff acerca do modelo de negócios da Arena, como nesta entrevista dada em maio deste ano (Fábio Koff critica modelo de parceria). Como é um homem de convicções, nada mais normal do que uma declaração eivada de críticas ao trabalho realizado por pessoas que, estranhamente, foram convidadas a permanecer à frente da Arena, casos de Eduardo Antonini e Cristiano Koehler.
Na época eleitoral, sua campanha foi pautada na mística que ele tem como o maior presidente da história do Grêmio (fato inquestionável) e um clima de otimismo que dizia, em muitas palavras, que era possível fazer um Grêmio vencedor (clique aqui para acessar o site de sua campanha: http://www.koffpresidente.com.br/projeto/) apostando em choques de gestão e técnicas modernas de administração. Inclusive, na parte inicial de seu projeto ele dizia assim: O fato de termos um projeto, por si só, já demonstra que não sou candidato ?contra? alguém ou ?contra? algum grupo. Pelo contrário: estou disposto justamente a superar essa rivalidade dentro do Conselho, desarmando espíritos e propondo uma gestão compartilhada. Sinceramente, não acho que sua entrevista tenha contribuído para um desarmamento nesse sentido, na medida em que claramente acusa as pessoas responsáveis pelo projeto de não terem fechado um bom negócio para o Grêmio, sob vários aspectos. Em outras palavras, para mim ficou claro um "olha, eu não sou a favor da forma como a Arena foi feita, mas já que é assim, vamos para o sacrifício", para daqui a pouco se dizer "emocionado com a presidência e muito otimista". Seja como for, bem diferente daquele candidato cheio de ideias e energia para tocar o Grêmio.
Eu votei em Paulo Odone, por entender que neste momento, o importante era termos uma continuidade do que já vinha caminhando no Grêmio (http://futebol--devcomportamental.blogspot.com.br/2012/09/a-verdadeira-mudanca-que-eu-quero-ver.html), mas isso agora não vem ao caso; a gestão do Dr. Fábio nem começou ainda para se fazer algum tipo de juízo de valor. Só acho que esse perfil demonstrado agora não tem nada a ver com o perfil que a torcida queria na presidência.
Tudo bem reverter as expectativas do torcedor dizendo que não temos dinheiro (mesmo após prometer, na campanha, que tinha um grupo investidor muito forte e que iria trazer jogadores de primeira linha), até pode ser uma jogada para evitar altas pedidas dos alvos de negociação do Grêmio; tudo bem procurar manter o status quo do futebol gremista (com exceção de Paulo Pelaipe, em detrimento de um advogado sem experiência no futebol) para a próxima temporada, certamente por julgar que o que estava sendo feito era bom (e então o problema era só o presidente); tudo isso faz parte do jogo de intrigas e inverdades de um processo eleitoral, em todas as partes do mundo.
Mas o presidente não podia colocar o ânimo da torcida lá embaixo. Ou então deve ser uma técnica moderna dizer para uma torcida, que tem a Arena como seu oásis de esperança de um futuro próximo muito melhor, que ela está cultuando algo que não é do Grêmio e que, pior, representa um alto custo para o clube, é um empecilho, é um dificultador para o crescimento do clube. Não, presidente, você não podia ter feito isto conosco. Ainda mais porque na entrevista o Sr. fala que, para ganhar uma Libertadores, é preciso haver uma sinergia entre diretoria, torcida e jogadores, para que se possa criar um clima positivo que leve o Grêmio ao tricampeonato. E o Sr. verdadeiramente acha que sua declaração contribui para isso? Meu senso comum diz que não, nem um pouco, vai na direção absolutamente contrária.
O mais chocante para mim é ver que, após criticar o modelo da Arena em maio, ser eleito pelo torcedor para ser o 1º presidente dessa mesma Arena, escolher Eduardo Antonini para continuar à frente do projeto (só posso acreditar que por entender que o trabalho está bem-feito) e em seguida detonar com aqueles que gestaram o negócio da Arena (reafirmando sua convicção de maio, que foi convenientemente esquecida durante as eleições), o presidente convocou Antonini para uma conversa, querendo "saber os mínimos detalhes do contrato com a OAS" (fabio-koff-convoca-antonini-para-falar-sobre-a-arena-3984822.html). Pausa para uma reflexão lógica: então quer dizer que todas essas críticas foram feitas sem conhecimento? Que Antonini foi convidado para permanecer à frente da Arena sem que se conheçam os detalhes de seu trabalho? É este o conceito de choque de gestão? Eu quero acreditar que não, a não ser que o choque proposto seja negativo.
Sobre o negócio da Arena em si, se é bom ou não para o Grêmio, algumas considerações. Não tenho vergonha de dizer que fui contra. Queria uma reforma no Olímpico, admito. Mas quando conheci o projeto e vi o quanto as coisas mudariam positivamente, me rendi. Então, sempre tive o negócio como sendo bom para o Grêmio; mas confesso não ter argumentos concretos para contradizer o Dr. Koff. Mas Paulo Sant'Anna, alguém de quem divirjo de muitas de suas ideias, fez algo sensacional: consultou Alexandre Grendene, não só um dos maiores empresários desse país, mas alguém que conhece os detalhes do negócio em si, e que até onde eu sei não é partidário de ninguém. E ele garantiu que o negócio é excelente para o Grêmio. Fico com a posição dele (leia aqui: paulo-sant-ana-opiniao-autorizada-3984677.html).
Começo a ouvir alguns arrependimentos de eleitores de Fábio Koff. Acho que não é o caso, e eu nem seria oportunista de criticar esses eleitores, por todos os motivos do mundo, mas principalmente porque sou GRÊMIO, e não Paulo Odone, nem Fábio Koff, nem Arena (ao contrário de muitos que se dizem gremistas de verdade mas só pensam em si e em seus grupos políticos). Mas o fato é que a gestão não começa bem, na medida em que desfaz do maior símbolo de esperanças da torcida tricolor: sua nova casa.
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