O Grêmio e a Macaca
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O Grêmio e a Macaca



No ano passado, me apaixonei pela Ponte Preta, principalmente a partir do enfrentamento com o Vélez Sarsfield, pela Copa Sul-Americana, campanha que redundou num histórico vice campeonato continental. Meu clube do coração, o Grêmio, tem uma parte marcante da sua história ligada à Ponte: o recorde de público do imortal Estádio Olímpico Monumental foi num jogo contra a Macaca, em 1981, onde perdemos por 1 x 0, gol do meia Osvaldo, que dois anos depois viria ganhar a América e o mundo no tricolor.

Por toda essa ligação, o sentimento rolou fácil, me identifiquei com o clube mais antigo do Brasil, que nunca ganhou um título e ainda assim tem enorme torcida. Aliás, me tornei amigo de pessoas incríveis que fazem parte dessa paixão pontepretana. Cubro jogos, acompanho o ambiente, procuro resultados, enfim, me tornei um seguidor da Nega Véia. Por tudo isso, me senti na obrigação de escrever aos meus amigos depois das lamentáveis cenas de racismo ocorridas na Arena do Grêmio contra um ídolo da Ponte, o goleiro Aranha.

Não somos racistas. Não mesmo. Aliás, existe um profundo desconhecimento da trajetória das pessoas de cor dentro do clube. Se vende erroneamente a ideia de que o Grêmio é um clube elitista, que proibia os negros de frequentá-lo. Na verdade, a história conta que, por ter sido fundado por alemães, as normas acompanhavam os preceitos de toda uma sociedade, onde os negros não tinham espaço em clube algum, infelizmente. Não fomos pioneiros na matéria por uma questão estatutária, mas a então "Liga dos Canela Preta", uma liga com os jogadores de cor que não podiam jogar em clube algum, teve apoio do Grêmio muito antes, por exemplo, de receber apoio do Inter, o tal do "Clube do Povo" (outra falácia vendida).

Um legítimo representante dos negros e humildes pode atestar isso: conheceu profundamente a história do Grêmio, e, além de ter se tornado um dos maiores músicos gaúchos de todos os tempos, fez a genial letra do hino gremista, não por acaso uma letra que fala de conquistas de pessoas humildes que vão até a pé acompanhar seu time. Lupicínio Rodrigues é uma prova viva de que o Grêmio é verdadeiramente azul, NEGRO e branco.

Os macacos

O folclore futebolístico fez com que o gremistas chamassem os colorados de "macacos". Existem algumas explicações para isso, mas nenhuma delas remete à cor de pele, dado que os negros há muito tempo tinham passe livre para vestir as cores do tricolor. Falar da "macacada" era se referir aos colorados de forma pejorativa, assim como falar da "mulambada" ou da "gambazada". Frequento estádios desde meus 4 anos de idade, e nunca vi qualquer conotação racista no termo, usado indiscriminadamente para pessoas que vestem vermelho, independente da cor da pele.

Mas, os tempos mudaram. As conquistas do negro, infelizmente, são colocadas à prova em vários aspectos da sociedade. O trato policial, as suspeitas de atendentes de lojas, a falta de oportunidades, a média salarial mais baixa, são todos elementos que comprovam o quanto ainda temos que avançar como sociedade para nos tornarmos justos e igualitários.

Nesse contexto, o termo "macaco", ainda que fazendo parte do folclore futebolístico, passou a não fazer mais sentido; o mundo mudou, a sociedade não é a mesma, precisamos adaptar as coisas. O uso do termo "macacada" faz com que se veja como normal chamar alguém de "macaco"; não é. Se um dia foi, hoje não é, e não pode ser. Por isso, nosso imenso repúdio quanto aos atos contra Aranha, contra Paulão, e contra qualquer pessoa que passe por isso.

Eu só não concordo com a conclusão fácil de que "a torcida gremista é racista" ou, pior, que o "Grêmio é racista", como muitas pessoas, apoiadas em matérias ridículas como a da revista Placar, querem agora afirmar. Não queiram me dizer que ser chamado de macaco (injúria racial) é mais grave do que sofrer racismo na carne, através de muitas agressões que diariamente são feitas contra os negros. Pior: muitas das agressões são realizadas por pessoas que hoje, por questões clubísticas ou pura hipocrisia, condenam toda uma torcida e um clube.

Os gritos de quinta (nos dois sentidos) fazem parte de uma sociedade podre, que não vê problemas em se utilizar de todas as formas de violência para aniquilar seus adversários. E, dentre as formas de violência, "macaco", "gaymista", "bambi" ou "favelado", sinceramente, me dá no mesmo. E pra mim, esse é o ponto: se punir o clube ou a torcida inteira vai resolver o problema, ok, vão em frente. Mas, desculpem a franqueza: há que ser muito ingênuo para acreditar nisso.

Que se puna os agressores, em todas as esferas; que se impute ao clube formas de aumentar a vigilância sobre o estádio, para que se possa identificar os agressores, não só de racismo, mas de outras formas de violência. Que a impunidade passe longe não só dos estádios, mas da sociedade como um todo. Porém, apontar o dedo para o Grêmio, ou para sua torcida, imaginando que são os culpados por um movimento nojento e deplorável chamado racismo, além de ser um paliativo, é uma boa forma de se livrar do problema, que é meu, é seu, é nosso e de todos.

Ponte x Náutico
Só para mencionar: tive a oportunidade de ver o jogo de hoje, vitória estupenda sobre o Náutico com um jogador a menos. Incrível como Guto Ferreira deu outra cara a esse time, que ficou brigador e competitivo. Baita partida no segundo tempo especialmente, com Renato Cajá entrando muito bem no jogo. Gostei do lateral Rodnei, do Jonathan Cafu e do centroavante Rafael Costa. Futuro promissor da Macaca na Série B. Vamos subir, Ponte!!



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