O que você quer ser quando crescer?
?Jogador de futebol!?A pergunta, comum entre os adultos, é respondida desse jeito por milhares de crianças mundo afora. Sonho de muitos, realidade de poucos. Especialmente quando se fala em atletas de alto desempenho. E o caminho do amadorismo à elite do futebol quase nunca é rápido e fácil.
Disciplina, habilidade, dedicação, humildade, inteligência, sorte e competência. Sem esses valores, dificilmente se tem sucesso construindo uma carreira como jogador de futebol. Representando um clube, o atleta é como um embaixador dos sonhos e paixões de uma multidão de torcedores. Saber triunfar com respeito aos adversários e perder de cabeça erguida também é fundamental para conseguir ?viver jogando bola?.
E o jogador da Seleção Brasileira Filipe Luís é um desses exemplos, daqueles que sonharam enquanto pequenos, batalharam arduamente e hoje têm sucesso na profissão.
A habilidade com a bola parece ter vindo de berço, já que ainda bebê ele mostrava a paixão pelo esporte mais querido da maioria dos brasileiros. Descendente de austríacos, italianos e poloneses (da Polônia, veio o sobrenome?Kasmirski?), o jaraguaense de nascimento dividiu a infância entre a cidade natal e Massaranduba, onde passava férias com os avós europeus. Quando criança, costumava brincar com os amigos em cemitérios, para ?passar medo?. O jeito alegre, espirituoso e bem-humorado não mudaram desde então.
O atleta começou sua carreira profissional aos 17 anos de idade (estreando como meio-atacante e depois se tornando lateral), sendo revelado pelo Figueirense em 2003 e tendo defendido o alvinegro catarinense por 57 partidas. Do ex-técnico Dorival Junior veio uma lição importante para a profissão: o corpo e a mente são as principais ferramentas do jogador, por isso é preciso cuidar da alimentação e do sono para estar sempre preparado para jogar em alto nível.
Em 2004, Filipe Luís foi contratado pelo Ajax, da Holanda. Em 2006, partiu para a Espanha para jogar pelo Deportivo de La Coruña. Em 2009, a UEFA o elegeu como o melhor lateral-esquerdo da temporada do Campeonato Espanhol.
No ano seguinte, o jogador teve que encarar uma situação difícil: na jogada em que fez seu primeiro gol pelo La Coruña, ele acabou se chocando com o goleiro adversário, sofrendo uma grave fatura exposta no tornozelo direito. Além do incômodo físico, ele ficou afastado dos gramados por meses, perdendo a chance de ser convocado à Copa do Mundo de 2010. Ainda em 2010, partiu para o Atlético de Madrid, onde acumulou troféus pela Liga da Europa, Supercopa da UEFA, La Liga e Copa do Rei. O jogador também estava no grupo que conquistou a Copa das Confederações no Brasil no ano de 2013.
No ano passado, ele foi transferido para a equipe londrina Chelsea, da Inglaterra, onde vive atualmente com sua família. Na conversa que você confere a seguir, o atleta mostra que mesmo vivendo a milhas distante do lugar onde nasceu, não perdeu a humildade e, principalmente, suas raízes. Confere aí:
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POR ACASO: Das lembranças da infância, quais são as que dão mais saudade?
FILIPE LUÍS: Sinto muitas saudades de ir na casa da minha Vó, em Massaranduba. São coisas muito simples que proporcionam muita alegria: pescar, caminhar no mato, pegar fruta das árvores, tomar o café da Vó, dormir na rede, escutar a família conversando em italiano e, principalmente, respirar o ar puro.
POR ACASO: Hoje, sendo pai da Sara (de 1 ano e 9 meses) e do Tiago (de apenas 6 meses), você consegue proporcionar a eles momentos como esses que você teve na infância?
FL: É difícil proporcionar os mesmos momentos, pois morando em Londres não temos tanto acesso à natureza e o clima não ajuda. Mas vamos aos parques, sempre que podemos. Quando tenho férias, visito Jaraguá do Sul e continuo fazendo as mesmas coisas que fazia quando era pequeno; e ensino tudo isso aos meus filhos. É uma sensação única aproveitar a cidade com meus filhos.
POR ACASO: Como foram seus primeiros passos no futebol? Já sonhava em ser um atleta da seleção?
FL: Comecei jogando futebol de salão, tanto pelo São Luis como pela Fundação de Esportes de Jaraguá. Mas jogava em todos os lugares possíveis. Sempre quando tinha amigos e bola no meio, a alegria era completa. Até os 14 anos joguei em Jaraguá e tudo era simples. Depois quando fui pro Figueirense, a pressão aumentou muito, já não era jogar por jogar, era jogar para conseguir alcançar o sonho, e lutar contra muitos que tinham o mesmo sonho. Lembro que o começo foi fundamental na minha carreira, principalmente com o Maneca, pois aprendi fundamentos que uso em todos jogos da minha carreira, como dominar, driblar e passar a bola.
POR ACASO: Após o episódio racista ocorrido no metrô de Paris, o Chelsea iniciou a campanha ?Black or White, We are all blue?, apoiada pelos jogadores. De que forma você se posiciona a respeito da punição a esses torcedores? Deve-se separar a figura do torcedor do ser humano na hora de investigar e punir?
FL: Acredito que essas pessoas que tiveram essas atitudes não são realmente torcedores, são pessoas revoltadas que usam o futebol para fazer anarquias e saírem impunes. Estão fazendo a coisa certa, que é punir essas pessoas, e que eles não voltem a pisar em um estádio. A melhor coisa é ver estádios lotados, de pais com filhos, com as torcidas misturadas, sem confusão nenhuma.
POR ACASO: A equipe da seleção brasileira parece mais centrada e equilibrada sob o comando do Dunga. Você mesmo declarou após a última partida contra a França que, com calma, resolveram a situação sem se deixar abalar. Como você avalia a atual situação do time e o seu papel na equipe?
FL: A atual situação da seleção brasileira é excelente, 8 jogos e 8 vitórias, uma defesa sólida e um ataque letal, um time compacto e muito intenso. Mas também sabemos que futebol é momento e o mais importante é saber que nada foi feito, que este é apenas o começo de um projeto. A humildade tem que prevalecer sempre para garantir grandes conquistas. Meu papel como jogador não é diferente, tento ajudar da melhor forma possível a equipe, porque quando o coletivo ganha, o individual também ganha.
POR ACASO: Quando foi contratado pelo Chelsea, você chegou a dizer que sonhou muito em jogar na Premier League. Esse sonho veio de pequeno? Qual conselho você dá para os jovens da nossa região que têm esse mesmo sonho, de ter uma carreira no futebol?
FL: Acredito que toda criança sonha em jogar na Europa, jogar em grandes clubes e chegar na seleção. Sem dúvida tinha o sonho de jogar na Premier League e também no campeonato espanhol. Hoje que consegui cumprir esse sonho, vejo que o sonho tem que ir em outra direção. Você não tem que apenas sonhar em jogar, tem que sonhar em ser campeão por onde passar. Essa ambição é que faz você melhorar e ser um jogador muito melhor.