pelo Prof. Dr. Luiz Carlos Ribeiro, Departamento de História / UFPR
O Núcleo de Estudos Futebol e Sociedade realizou, no último dia 24 de agosto, uma reunião de balanço e planejamento de atividades futuras. Toda vez que eu me encontro nessa situação de fazer um balanço das atividades do Núcleo, questiono-me se temos uma data simbólica de fundação do grupo.
Essa indefinição deve-se ao fato de que os estudos sobre futebol no Departamento de História da UFPR (que deram origem ao Núcleo) iniciaram-se de maneira ocasional e marginal. À época, apenas temas centrais e considerados relevantes pela academia, tais como história dos partidos, dos governos, das classes sociais ou das instituições, eram considerados. O meu gosto e envolvimento pessoal com o futebol começou a receber alguma conformação acadêmica a partir das participações ? ao longo dos anos 90 ? no Congresso de História do Esporte, então organizado por professores e alunos da pós-graduação da Unicamp, sob a liderança do Ademir Gebara. Dessas relações surgiu a minha primeira orientação, que foi a defesa de mestrado em 2002 do André Mendes Capraro, hoje doutor e professor da UFPR.
Apesar da relevância desse acontecimento, 2003 me parece mais simbólico como momento de formalização do Núcleo. No ano em questão, lançamos o primeiro número temático sobre futebol da revista História: Questões & Debates (?Esporte e sociedade? ? vol. 29 jul-dez de 2003) e participamos da coordenação do primeiro simpósio temático sobre esportes no congresso nacional da ANPUH, no qual estamos até hoje. Apesar de em nenhum desses momentos o grupo aparecer como um núcleo formal, a sua existência era fato consolidada.
Desse modo, creio que 2003 pode ser considerada como a data simbólica de criação do Núcleo de Estudos Futebol e Sociedade, o que significa que completamos, em 2013, dez anos de existência.
Apontada uma solução para o enigma da fundação, a tarefa agora é atentar para as atribuições futuras. E, nesse sentido, há um cotidiano que deve ser mantido, que é cuidar das defesas das dissertações e teses, da conclusão dos projetos coletivos, fazermos uma agenda pessoal e coletiva de compromisso com publicações de qualidade, realizar e participar de eventos, entre outras.
A guisa de exemplo, cito o projeto coletivo que o Núcleo leva junto ao Arquivo Público do Estado do Paraná, de classificação de milhares de documentos do Conselho Regional de Desportos (CRD). Uma documentação produzida entre 1941 e 1985 e que se encontrava guardada e sem tratamento há mais de 30 anos.
Nossa tarefa, portanto, é a de ampliar o leque documental para o estudo histórico do futebol. Nesses estudos tem sido rica a exploração dos jornais, por exemplo, mas precisamos ampliar as nossas fontes, o que significa não apenas diversificar, mas também construir métodos para o seu tratamento e análise crítica. Assim como temos a obrigação de refinar o campo teórico, o que significa elaborar novas problemáticas e questões colocadas às fontes, mesmos as mais tradicionais. E refinar consiste tanto em trazer à cena novos autores, quanto não abrir mão da leitura crítica dos já conhecidos.
Cito como exemplo o que era muito corrente nos primórdios dos estudos sobre futebol ? nos anos 1980/90 ?, com os usos que se fez de autores como Elias ou Bourdieu. Apesar da ênfase dada por esses à autonomia do campo (Bourdieu) ou às indeterminações das configurações (Elias), não era incomum estudos do futebol reduzidos às estruturas fixas, tais como explicar o futebol pela ditadura Vargas (ou qualquer outro regime) ou mesmo reificar a mística (sem qualquer distanciamento crítico) de que o futebol, por que uma paixão nacional, explica o Brasil (Freyre, DaMatta).
Como já escrevi em algum artigo, um campo de estudo se consolida quando os pesquisadores definem os recortes cronológicos, selecionam as fontes, estabelecem conceitos e categorias, produzem referências historiográficas e constroem modelos explicadores, aceitando o risco salutar de ter de refazê-los.
Reproduzir os estudos da história tradicional, sem relevar as especificidades do sistema futebolístico é corroborar com a desgastada ideia de que o estudo do futebol é irrelevante ou marginal.
Em artigo recente, Pablo Alabarces observou que os estudos sobre futebol encontram-se saturados. Ele se referia ao contrassenso, entre os estudiosos do futebol, em reclamar da resistência do meio acadêmico em aceitar o tema, ao mesmo tempo em que se constata a grande quantidade de dissertações, teses e publicações produzidas. Referindo-me, sobretudo, à historiografia brasileira, talvez o problema esteja muito mais no esgotamento teórico.
O que pretendo dizer com essas observações é que, pela nossa história de mais de dez anos, temos a obrigação de nos colocar como tarefa o aprofundamento do debate teórico. Ou seja, o de propormos uma atualização do campo teórico de discussão do futebol.
O que quero indicar, portanto, é o compromisso de um esforço coletivo pelo debate teórico. Como fazê-lo na prática? Comecemos pela escolha, entre nossas opções, de um autor de referência e a disposição para apresentá-lo ao grupo como uma perspectiva teórica de estudo do futebol.
Se não fizermos isso, os próximos dez anos serão de mesmices, ou de saturação, como escreveu Alabarces.
loading...
Este número dos Cadernos de Estudos Africanos debruça-se sobre o desporto em África, olhando a sua história e as suas dinâmicas contemporâneas. Reflete, pois, o curso das investigações sobre um fenómeno presente no contexto das práticas do lazer...
O Núcleo de Estudos Futebol e Sociedade (NEFS-UFPR) convida todos a participarem do novo encontro do Círculo de Debates Futebol e Ditadura na América Latina. O evento alia história, esporte e cinema nas reflexões sobre as inter-relações entre...
Entre os dias 08, 09 e 10 de junho ocorreu o 3º Simpósio de Futebol em Curitiba. O evento é realizado desde 2011 com o intuito de promover o debate em torno da modalidade esportiva com a reunião de profissionais de múltiplos segmentos, como atletas...
O Núcleo de Estudos Futebol e Sociedade (NEFS-UFPR) convida todos a participarem do Círculo de Debates Futebol e Ditadura na América Latina. Unindo história, esporte e cinema o evento propõe o debate sobre as inter-relações entre futebol e...
Após participar como ouvinte do I Simpósio de Estudos Sobre Futebol, realizado em São Paulo de 10 a 14 de maio, organizado pelo Museu do Futebol em parceria com o Departamento de História da USP e Departamento de Antropologia da PUC-SP, foi possível...