Paixão pelo futebol: a desculpa dos cartolas e políticos
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Paixão pelo futebol: a desculpa dos cartolas e políticos


 
Texto extraído do Jornal O Estado do Maranhão, de 13 de Setembro de 1993

O que levaria uma pessoa a gastar dinheiro sem que tivesse retorno? Esta pergunta é feita insistentemente por todos que vivem no mundo do futebol maranhense e brasileiros até. Os dirigentes do nosso futebol, tão carentes e pobre, colocam recursos dentro dos clubes sem que tenham retorno do dinheiro gasto. Indagados, eles sempre afirmam a mesma coisa: é a paixão. Paixão pelo futebol, apesar de tudo. Mas será que somente a paixão pelo futebol, ainda uma unanimidade nacional, levaria os políticos a colocar em jogo suas carreiras, suas vidas e seus recursos financeiros. Esta é outra pergunta que se faz a quantos são políticos e vivem dentro do futebol, como Pedro Vasconcelos, Edmar Cutrim, Sebastião Murad e até o saudoso Nagib Heickel, que por algumas vezes foi Presidente do Moto Club. Todos eles, com exceção de Nagib, que não respondeu a este questionamento, respondem a mesma coisa: é paixão pelo futebol e nada mais. No entanto, sabe-se que por trás do futebol existem outros interesses, muitas das vezes até mesmo político. Quantos dirigentes não já se lançaram nos clubes para conseguir se eleger a um cargo público de deputado ou vereador, e quantos outros se mantiveram sempre sob as luzes dos holofotes do esporte para continuar na política? Mas será que política e futebol podem sempre dar certo? Não, nem sempre. Muitas vezes o tiro sai pela culatra e o pretenso desportista, vestido de político, acaba levando o troco.

Se alguns abnegados gostam do futebol e vivem no meio dele é porque existe uma paixão pela bola neste país. Mas hoje a classe que mais se encontra no meio do esporte é a dos políticos. São deputados, vereadores que se alguma forma ou de outra se entregam de corpo e alma em busca desta paixão para poder ficar sempre em evidência no noticiário do rádio, da televisão e dos jornais. Alguns, no entanto, argumentam que não existe nada disso, e se estão no futebol é porque sentem realmente uma grande paixão. Senão vejamos alguns depoimentos políticos colocados n futebol.

Deputado Estadual do PFL, o Presidente do Moto Club, Sebastião Murad, justifica que sai permanência no futebol não é só pelo simples fato de ser político, mas sim porque tem uma grande paixão e até uma frustração de não ter tido o dom de jogar futebol. Murad afirma que mesmo não tendo sido eleito com o apoio total da torcida, ele contou com o voto dos motenses e por esta razão firmou um pacto com os torcedores do Moto Club e hoje é o candidato do rubro-negro. ?Eu acho que política e futebol dá certo sim, pois se um clube tem o seu representante, a torcida vota nele e quem ganha é o próprio clube. A grande arma do povo é o voto. A grande arma da nação rubro-negra é votar naquele que vai se candidatar como representante do Moto Club de São Luís, tanto na Assembleia ou na Câmara Federal?, analisa Murad.

Indagado sobre a possível participação do secretário particular do Governador Edison Lobão, o Deputado Sebastião Murad disse que Edinho tem ajudado o Moto, tentando reunir motenses, mas sem qualquer fim político. ?A ajuda de Edinho Lobão tem se manifestado no sentido de conseguir reunir em torno do Moto Club os abnegados, mas sem que chegue a ser qualquer tipo de ingerência político no clube?, afirma Murad. Sobre a colocação de dinheiro no clube, o Deputado Murad diz candidamente que não tem retorno, mas também não tira de suas empresas para colocar no clube. O que ele consegue é sempre com a ajuda de outros motenses, mas diz que tudo é mesmo uma grande paixão pelo futebol, nada mais do que isto.

Já o Deputado Pedro Vasconcelos (PFL) afirma que além da paixão que sente pelo Sampaio Corrêa, o futebol é sua própria vida e cita um exemplo: ?Quando saí do Sampaio e fiquei afastado do clube, foi nesse período que adoeci e tive que fazer uma safena no coração. Mas agora estou d volta e me sinto bem no meu time do coração?, afirma Vasconcelos. O caso de Pedro Vasconcelos por ser encarado como diferente de Murad do Moto. Vasconcelos se elegeu na primeira vez com o apoio maciço da torcida Tricolor, que no entanto não lhe deu a mesma votação anterior, mas sempre assim ele ficou como suplente e agora efetivou-se por causa da morte de Nagib Heickel. Pedro diz que política e futebol já se misturam há muito tempo e aqui em São Luís é muito mais evidente e cita exemplos de Djalma Campos, Antônio Bento, Faísca e ele próprio. Indagado como faz para manter o Sampaio e se tem alguém por trás de si, Pedro Vasconcelos afirma que só ele banca o clube e seu salário de deputado é quase todo comprometido com as coisas do Tricolor. ?Quem banca o Sampaio é Pedro Vasconcelos e é assim quando estou à frente do clube. É claro que muitos dirigentes ajudam, mas no fim de tudo quem banca mesmo sou eu?, afirma Vasconcelos.

Para este político, o futebol é ?paixão e loucura? e no seu caso mais ainda por causa do amor que sente pelo Sampaio. Segundo Pedro Vasconcelos, não é só por interesse que vive no futebol, mas sim pelo fato de ser um apaixonado pelo seu clube. Como fazer para manter o time em dia, o Presidente afirma que é com muita ?mágica?, pois hoje não é fácil, segundo declara. Hoje, como mais experiência, Vasconcelos entende que a torcida é um fator preponderante na sua vida política e conta com ela para retornar à Assembleia Legislativa, no pleito do próximo ano. ?Esta história de que não se depende da torcida é pura balela. A torcida é o maior patrimônio do clube e, por esta razão, o político que dirige uma agremiação tem este patrimônio para cuidar e com muito carinho, como eu tenho pelo Sampaio Corrêa, e conto com ela para tudo na minha vida pública?, diz Vasconcelos.
 







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