Os Artistas do Futebol Brasileiro (50 minibiografias) - Autor: Antonio Falcão - Parte 4
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Os Artistas do Futebol Brasileiro (50 minibiografias) - Autor: Antonio Falcão - Parte 4


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Aírton Pavilhão, a técnica
(1934-)


Aos 13 anos, Aírton Ferreira da Silva era infantil no Força e Luz (clube gaúcho já extinto) e, embora esguio, muito clássico e lento, para imitar Tesourinha, o seu ídolo, atuava de ponta-direita. Até tentaram dissuadi-lo dessa posição, mas ele ? nascido em Porto Alegre no dia 31 de outubro de 1934, filho de um pobre sapateiro com 10 filhos ? insistia. Só depois o tempo o fez center-half. E em 54, como apoiador, exibindo categoria no profissional do Força e Luz, os 1,87 m e a bola imensa de Aírton encheriam os olhos do Grêmio, que o adquiriu em julho. A aquisição, porém, fugiu do usual das transações, pois se iniciou à entrada de um cinema, onde Aírton estava com a namorada, com dois emissários da direção gremista lhe propondo contrato. Além de bom salário, ele recebeu um automóvel, o que o fez o primeiro jogador gaúcho a ser motorizado. Ao Força e Luz, afora uma soma em dinheiro, o Grêmio pagou por seu passe as tábuas que sobraram de um pavilhão do seu antigo estádio, com mastro de içar bandeira e tudo. Essa particularidade daria a Aírton o apelido de ?Pavilhão?. (Antes, ele fora chamado de ?Queixada?, por ter o mento proeminente, igual ao de Ademir Menezes ? à época, o deus vascaíno em voga).
Pavilhão uniu-se ao seu prenome e Foguinho, o inesquecível Oswaldo Rolla, ex-craque e treinador, recuou-o para a zaga central, onde compôs com Ênio Rodrigues uma histórica dupla de área. Outro grande nome que Pavilhão encontrou no Grêmio foi o seu ídolo Tesourinha, já em final de carreira. A partir de 1955, Aírton seria o melhor zagueiro gaúcho de todos os tempos e dos maiores estilistas do Brasil. Ano seguinte, em um grupo que contava, além do capitão Ênio Rodrigues, com gente da envergadura de Calvet, Gessy, Milton Kuelle e Vieira, Aírton ganhou o título estadual. Ainda nesse 56, foi reserva do escrete brasileiro formado por atletas do Rio Grande do Sul, a equipe que venceu o campeonato pan-americano de seleções nacionais, realizado na capital mexicana.
Todavia, a glória da carreira de boleiro de Aírton Ferreira da Silva só começava. Nos anos subseqüentes, ele ganhou o certame gaúcho, sendo pentacampeão estadual de 1956-60. À época ? de perfil imponente e de dribles geniais, exageradamente técnico, perfeito no cabeceio, marcador leal, mas rígido, e, compensando a lentidão, bem-colocado ?, esse artista empolgava a torcida com passes de trivela. Assim: punha o pé direito atrás do esquerdo e, de pernas cruzadas, batia de direita na bola, cedendo-a ao companheiro mais próximo. Às vezes, Pavilhão executava essa jogada até cinco vezes em uma partida.
Em março de 60, Aírton realizou os 6 jogos do escrete brasileiro ? de novo representado por atletas gaúchos ? que disputou o pan-americano na Costa Rica sob o comando de Foguinho, o mesmo técnico que lhe fizera zagueiro. A seguir, ele foi cedido por empréstimo ao fantástico Santos Futebol Clube, de Pelé. Só que na Vila Belmiro não ficou, até porque Mauro Ramos também chegara por lá. De volta a Porto Alegre no início de 61, Aírton foi sondado pelo Internacional, o implacável arquiinimigo do Grêmio. Mas preferiu voltar ao tricolor. E em 62, antes de ser campeão estadual, esteve entre os 40 convocados para os treinos da seleção brasileira que ia à Copa do Mundo no Chile. Porém, em um dos coletivos, o habilidoso zagueiro gremista fez um passe de trivela. E esse lance ? na opinião de alguns ? foi interpretado pelo técnico Aimoré Moreira como irresponsabilidade, razão que excluiu Aírton daquele grupo que ganhou o Mundial. Como isso jamais foi esclarecido, talvez o motivo do corte dele tenha sido a forte concorrência de Mauro e Bellini, que há muito se revezavam no miolo da zaga brasileira.
Todavia, sem qualquer sombra de dúvida, de 62 a 67 ? período do hexacampeonato gaúcho do Grêmio ?, o exímio zagueiro se afirmaria como referência tricolor, condição ainda hoje mantida. Tanto que, em 2000, uma pesquisa da Federação Gaúcha de Futebol junto à torcida gremista deu que ele fora visto como o maior nome do clube porto-alegrense. E à frente de Renato Portaluppi, De León, Everaldo, Vieira, Ortunho e, até, o lendário goleiro Lara (1897-1935) ou o dentuço Ronaldinho Gaúcho, este de recente safra tricolor. Contudo, curiosamente, Aírton Pavilhão não foi só craque, mas o atleta com maior ojeriza a avião que já se viu nesse mais de um século de futebol. Por isso, nos jogos próximos a Porto Alegre (interior gaúcho, Santa Catarina ou Paraná), enquanto a delegação do Grêmio voava, ele ia de ônibus ou de carro para encontrá-la. Seu pânico aéreo era tamanho que, às vésperas da vitoriosa excursão à Europa, sem constrangimento Aírton alegou problemas médicos para ser dispensado. Como a mentira não teve conseqüência, ele foi com a equipe ao Velho Mundo.
No fim de 1967, Pavilhão se deu conta que fizera 33 anos de idade e quis parar. Afinal, em doze temporadas pelo Grêmio, vencera 11 certames estaduais, recorde que nenhum outro jogador alcançara. E tais títulos ? um penta e um hexa ?, até então, eram os mais significativos desse clube do Rio Grande. Contudo, enquanto ele planejava encerrar a carreira, o porto-alegrense Esporte Clube Cruzeiro propôs um bom contrato e Aírton vestiu a camisa cruzeirense no certame de 68. O marco dele no Cruzeiro, porém, fora assinalar um gol chutando de pé esquerdo e contra o Inter. A seguir, o estilista zagueiro se transferiu para um pequeno time de Cruz Alta, cidade no interior do Rio Grande do Sul ? terra natal de Érico Veríssimo, um autor de peso da moderna literatura brasileira. E, lá, Pavilhão jogaria até 1971, data em que saiu das canchas e entrou na história nacional como um iluminado nome do futebol-arte.
Hoje, envelhecendo ao lado do gremista estádio Olímpico, onde reside, esse ex-craque sabe que depois dele poucos defensores de área ousaram valer-se de apurada técnica e impor estilo diante dos hábeis atacantes brasileiros. Nesse sentido, aliás, Pavilhão, que se defrontara tantas vezes com Pelé, sabe deste depoimento de Larry Pinto de Faria, o centroavante colorado de 1955 a 60: ?Ele foi o melhor zagueiro que enfrentei. Além de tecnicamente ser dos mais perfeitos que vi jogar, era também bom caráter. Devo ter sofrido uma falta ou outra nos vários Gre-Nais (confrontos de Grêmio e Internacional) que disputamos?. Por saber de si, disso e de futebol, o pacato cidadão Aírton Ferreira da Silva decerto tem certeza que talvez Luís Pereira e Luizinho (do Atlético Mineiro) foram dos poucos a seguir a trilha clássica edificada por Domingos da Guia, Mauro e ele próprio, Pavilhão, nos terrenos de jogo dessa vida de bola rolando. Por também reconhecer isso, em agosto de 2004, a direção do Grêmio o homenageou com uma placa comemorativa dos 50 anos da entrada dele no clube. E ainda antecipando-se em dois meses à festa dos 70 anos de idade desse ídolo maior. Logo a seguir, saiu pela editora Corag, de Porto Alegre, Aírton Pavilhão, o Zagueiro das Multidões, obra escrita pelo gaúcho Celso Sant'anna.

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