Os alquimistas (do marketing) estão chegando
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Os alquimistas (do marketing) estão chegando


Em algum post aí perdido, falava que existe uma cartilha de chavões para os cronistas/narradores/apresentadores, que rege suas falas de forma robotizada, nivelada pelo rasteiro e que não dá espaço para que expressem suas reais opiniões (se é que possuem alguma). Gol que possua determinada jogada é "golaço" sempre; atleta que acerta três ou quatro passes seguidos já é digno de destaque histérico, etc. Qual a idéia por trás disso? Fazer com que a torcida, essa entidade esponjosa, comporte-se de tal forma também. Como são os "especialistas", as vozes que possuem, teoricamente, conhecimento técnico/teórico e, a partir daí, esclarecimento suficiente para determinar o que é bom e o que é ruim, eles fazem o tempo todo política nada inocente e direcionam a maneira de o espectador perceber o jogo; e este, se não se precaver (o que é fácil, pois desligar nosso senso crítico é primordial para as transmissões de TV), cai direitinho em muitos dos incontáveis embustes exaltados por aí.

Hoje, fui dar uma olhada em uma lista das 25 melhores contratações da temporada européia, feita por Leonardo Bertozzi, comentarista da ESPN Brasil e editor da revista Trivela (da qual Toro é muito fã). Não mais me identifico com esse tipo de coisa; as palavras de empolgação do cara não me atingiram (só consegui reagir aos nomes ao rir de uma menção a Robinho; o resto me soou sempre estranho, por conta do tom empolgado do articulista e da minha falta de interesse por tantos nomes medianos que empesteiam os gramados no Velho Mundo). Eis que, besta, vou dar uma olhada nos comentários, esta maneira tão veloz de tirar qualquer um do sério, e vejo lá que pessoas (isso mesmo, no plural) pediam Krasic, da Juventus de Turim, entre os listados. Tive um misto de gargalhada e desespero, sentindo que minha mente havia ficado oca repentinamente e não havia percebido: ora essa, Krasic é um desses medíocres que alcançam certa fama, um atleta desengonçado, lento, sem cintura, com dificuldade para acertar passes e enxergar o jogo - e, por todas essas "qualidades", virou motivo de galhofa entre o pessoal com o qual converso regularmente sobre futebol. O que leva um encosto desses a ser considerado "craque"?

Ser jogador da Juventus, time em má fase mas ainda um dos grandes do mundo, ajuda? Talvez. Substituir Nedved com um visual parecido, também? Sim, a ilusão de ótica pode ser fator a se considerar. Mas, mais importante que isso: note que não existe nível de exigência para o futebol publicitário. Ela não só caiu, como ficava nítido há algum tempo: agora, ela, a exigência, parece não existir mais. Tudo é vendável; tudo, se tratado com a devida parcimônia, carinho e paciência, pode ser transformado em mercadoria campeã de faturamento mesmo com embalagem enganosa. Entregue uma panela, um pára-choque de carro, ou mesmo o tal Pepe, tenebroso companheiro de Krasic na Juve, a um marqueteiro habilidoso, que saiba trabalhar com imprensa e patrocinadores, e ele é capaz de elegê-los os "melhores do mundo" naquela festa ridícula da FIFA, no fim do ano. E o público, mera (porém necessária) massa de manobra, instala-se confortavelmente na mentira, vive-a e sequer deseja sair dali, pois é mesmerizado para não dizer o contrário do que lhe é imposto de cima. Assim é o reino da propaganda: a margarina que é exibida na tela ou no anúncio de revista precisa lhe provocar ganas de consumo, de descartar as outras marcas de antemão, de colocá-la na lista de compras do mês, de aprová-la de antemão, sem ao menos tê-la experimentado. Eis então Krasic, um dos tantos craques-margarina dos novos tempos.



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