Omena ?Divina Dama?
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Omena ?Divina Dama?


Matéria publicada no dia 22 de Fevereiro de 1999 (Edivaldo Pereira Biguá e Tânia Biguá, página "Onde Anda Você?", do Jornal O Estado do Maranhão) e revisada.

Elegante, clássico, fino na bola. Assim foi o carioca Omena. Um zagueiro disciplina, exímio cabeceador e que sabia jogar com uma categoria tamanha que terminou ganhando um apelido curioso: Divina Dama. Para alguns, poderia até parecer um nome pejorativo, mas, para esse incrível jogador de futebol que encantou as torcidas de Sampaio, Moto, Maranhão e Ferroviário nas décadas de 60, esse foi um elogio ao seu talento, à sua finura no trato com a bola.

Antônio Ribeiro de Omena Filho é da capital do Rio de Janeiro. Nasceu e se criou no Bairro de Marechal Hermes, onde ele era conhecido como Badau. É o caçula de uma família de quatro irmão ? Hildebrando, Iraci, Paulinho e Omena. Desde cedo via o irmão Paulinho jogar e também foi se apaixonando pela bola. Calçou chuteiras pela primeira vez quando foi treinar no juvenil do Madureira, em 1952, levado pelo irmão Paulinho, meia-esquerda e ídolo da torcida madureirense. Nessa época, Omena, 18 anos de idade, alto, 1m86, 75 quilos, canhoto, conhecia os fundamentos do futebol e tinha um preparo físico invejável, natural da idade. Jogava no meio de campo, mesmo sendo lento. Não era muito de se mexer e sim de botar a bola para correr.

O Madureira foi o time de Omena por oito anos. Ele jogou no juvenil, aspirante e profissional. ?Por incrível que pareça, no Madureira eu era amador e o coringa do time. Joguei na meia-esquerda, zaga central, lateral-esquerda e até no gol. Eu queria era estar no time. Jogava pro prazer já que, desde os 17 anos de idade, eu já era independente. Trabalhava na Marinha do Brasil?. O irmão Paulinho deixou o time carioca e foi arriscar a vida em outros lugares. Jogou no Náutico/PE e depois voltou para o Rio de Janeiro. Defendeu o Fluminense, onde se tornou famoso como Paulinho ?ladrão de bola?.

Antes de vir para o Maranhão, Omena ainda jogou uma temporada na Portuguesa do Rio como lateral-esquerdo. Sua vinda para cá foi um acaso, coisa do destino. No final de 1961, ele estava em um batizado de um amigo. Soube que Garrinchinha estava querendo levar três jogadores para o Moto Clube, para passar 20 dias em São Luís. Vieram Omena, Zé Carlos e Jouberth. ?Nos impressionamos com a recepção quando chegamos a São Luís. Jogávamos em time sem torcida no Rio e de repente estávamos num time de grande torcida. O fascínio se tornou grande responsabilidade?.

Omena, Zé Carlos e Jouberth desembarcaram em São Luís no sábado e no domingo já estavam em campo para enfrentar o Sampaio Corrêa no maior clássico do futebol maranhense. O Moto não ganhava o rival havia dois anos. ?Vencemos esse primeiro confronto por 1 a 0, gol de Nabor?, conta Omena, referindo-se ao amistoso entre rubro-negros e bolivianos do dia 29 de Abril de 1962. Na ocasião da estreia dos três, o Moto jogou com Bacabal; Baezinho, Laxinha, Omena e Zé Carlos; Gojoba e Ananias; Zezico, Jouberth, Nabor e Neto; o Sampaio Corrêa disputou com Zé Raimundo; Ribeiro, Edgar, Decadela e Damasceno; Chico e Vadinho; Peu, Massaú, Caú e Sabará. Omena deu a maior sorte nessa partida, já como zagueiro central. Em um lance que Fernando, centroavante do Sampaio, no final do jogo cabeceou a bola para o gol. Ele salvou em cima da linha. Saiu de campo nos braços da torcida. E não foi só isso, conta ele. ?Nos dois domingos seguintes voltamos a jogar com o Sampaio e vencemos os dois jogos por 5 a 1?, relembra, orgulhoso.

 Omena, o terceiro em pé, no Sampaio Corrêa em 1964

Depois dessas vitórias e com medo de perder o emprego na Marinha, Omena voltou ao Rio de Janeiro. César Aboud, Presidente do Moto, foi buscá-lo, a pedido da torcida. Depois de algumas negociações, o presidente motenses conseguiu a transferência do emprego de Omena do Rio para São Luís.

Omena defendeu o Moto nos campeonatos de 62 e 63. Não foi campeão, mas teve orgulho de jogar em um time de craques: Bacabal; Baezinho, Baezão e Português; Gojoba e Ananias; Garrinchinha, Hamilton, Nabor e Jouberth. ?Éramos unidos dentro e fora de campo. Ficamos dois anos sem perde para o Sampaio. Pena que não fomos campeões?.

Em 1963 Omena se casou com Lâmia Ayoub. Ele relembra que foi um casamento regado a uísque. ?Me casei com uma pessoa da alta sociedade maranhense. Na festa não foi servido cerveja e meus amigos da bola não puderam ser convidados, exceto o professor Rinaldi Maia, meu técnico. Eu estava feliz mesmo assim. Tudo estava dando certo no Maranhão. Tinha um bom emprego, ganhava bem no futebol. Fui campeão da Região Norte do Brasileiro de Seleções jogando pela Seleção Maranhense?. A Seleção Maranhense a época, aliás, não poia deixar de foram um craque como Omena. Seria um sacrifício inútil, já que além de jogar muito e ser respeitado pelos adversários, ele já amava a terra, como muitos.?

Na bola tudo continuou às mil maravilhas, mesmo quando em 1964 Omena trocou o Moto pelo Sampai Corrêa, o que parecia impossível. Mudança que daria certo e traçaria outro rumo na vida dele. No mesmo ano foi campeão Estadual jogando ao lado de Manga; Vadinho, Walfredo Carioca e Bero; Maneco e Chico. Antônio ou Maioba; Jarbas, Toinho e Sabará. ?Um time que encantou. Achavam que eu não ia jogar bem ao lado de Walfredo, porque éramos lentos e clássicos. Demos um baile e nos afinamos muito bem. Foi nesse ano que a torcida me apelidou de ?Divina Dama?. Em 65 levantamos o bi de forma brilhante. O Moto não ganhou o Sampaio nesses dois anos. Foi o máximo?.

No ano do bicampeonato Tricolor, aconteceu um fato inédito que marcou para sempre a carreira de Omena. Chateado por Coelho (então centroavante do MAC) ter feito um gol irregular em cima dele num jogo contra o Sampaio, Omena resolveu dar um troco politicamente incorreto. Entrou em campo com um alfinete e toda vez que Coelho vinha para a área, ele o espetava. Omena não foi expulso, mas o árbitro da partida, atendendo às reclamações do centroavante atleticano, acabou levando o caso ao Tribunal da Federação Maranhense de Desportos, que, por falta de provas, não condenou o zagueiro sampaíno. ?Essa história rendeu muita notícia. Foi divulgada em todo o Brasil. Me tronei super conhecido por esse fato que hoje me faz sorrir?.

No casamento, as coisas iam de vento em polpa. Nasceram Sérgio e Sâmia. A felicidade parecia plena. Por trás dessa pessoa pacata e amiga, Omena tinha um gênio muito forte. Brigava constantemente com dirigentes, em causa própria e também pelos companheiros, chamado de amigo pelos amigos. O declínio no futebol começou depois de uma briga com Antônio Bento Cantanhede Farias, Diretor do Sampaio Corrêa. ?Fiquei sem jogar por seis meses. Não aceitava as condições que Antônio Bento me oferecia para continuar no clube?. No segundo semestre de 1966, Omena foi transferido para o Ferroviário Esporte Clube. ?Nada dava certo por lá, minha cabeça começou a pirar?.

No começo de 1967, já meio desmotivado e com o casamento em crise, Omena foi para o Maranhão Atlético Clube. ?Eu estava com 32 anos de idade. O casamento estava mal. Bebia o que podia. Andava a fim de voltar para o Rio. Tudo isso prejudicou a minha passagem pelo clube que aprendi a gostar e do qual sou torcedor até hoje?. Ele diz que quem o trouxe para São Luís foi o Moto, o Sampaio deu as glórias, quem conquistou o seu coração foi o MAC.

No início de 1969, depois de jogar por dois anos do MAC e não conquistar nenhum título, Omena, aos 35 anos de idade, resolveu parar com a bola profissionalmente. Como o casamento estava abalado, ele resolveu abandonar tudo e voltar ao Rio de Janeiro. ?Eu estava em depressão profunda. Bebia muito, brigava direto com a esposa. Enfim... Numa noite, beijei meus filhos e me mandei. Fui para Teresina com a ajuda de alguns amigos e depois segui para o Rio. Eu tinha que fazer isso senão morreria. É evidente que foi sofrido, mas eu tinha que ir?. Depois que largou o futebol como atleta profissional, o exímio jogador enveredou na profissão como técnico. Trabalhou como auxiliar da Seleção Brasileira sub-20 em 1989, passou pelo Alecrim de Natal, Ferroviário e Ji-Paraná de Rondônia, Rio Negro de Manaus e São José, Tocantins, Seleção de Viana e Pindaré, no Maranhão.



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