Futebol
O circo está na cidade
A coisa mais repugnante que pude ver relacionada ao futebol, nos últimos tempos, nos foi mostrada no domingo último. Não, não me refiro ao "título" da Copa das Cofederações, e sim o que se seguiu a ele: durante a comemoração, antes de os vinte e dois autômatos que ali estavam levantarem a taça, uma turminha - liderada por vermes do quilate de Robinho, Júlio César e André Santos (Daniel Alves não conta, já que este tem o próprio nome tatuado no peito) - resolveu inverter a camisa da seleção, e passou a usar o seus respectivos nome e o número na parte de frente, e não nas costas. Ali, em uma atitude tão banal, mas ao mesmo tempo tão maquiavélica, tão canalha, esses indivíduos passaram a se atribuir maior importância do que a camisa que vestiam ou àqueles que os precederam. O símbolo do país foi invertido, passado para trás, junto com todo o seu genial legado; o que realmente importava era o imediatismo, o egocentrismo, o telão do estádio, o mercado de transferências, os patrocínios de empresas multinacionais, as entrevistas ao Tino Marcos. Todos se transformaram instantaneamente em seus próprios deuses, para serem idolatrados apenas por si próprios. Nada poderia ser mais sintomático e revelador dos verdadeiros impulsos dessa patética geração do que essa simples inversão da jaqueta. Um espetáculo repulsivo, coroado com o fraternal abraço de Kaká e Ricardo Teixeira.
Dois dias depois, na terça-feira, em um desses miseráveis programas esportivos da hora do almoço (não, não vou dizer que era o da Renata Fan, o esgoto da crônica futebolística brasileira), o GC dizia, enquanto um sujeito esbravejava, as veias do pescoço saltadas: "Ulisses Costa afirma que Ronaldo irá atropelar o Inter". Nessa inocente frase, o que foi dito aí em cima se repetia, dessa vez em relação a um clube: trocava-se o nome do time pelo nome de um atleta. Não é o Corinthians que irá atropelar o Inter, é Ronaldo quem o fará. Atribui-se uma maior importância ao jogador do que ao clube. Uma instituição centenária é preterida em favor de um sujeito que lá está há pouco mais de seis meses. O "eu" é mais valorizado que o "nós", que o coletivo, até mesmo por aqueles que deveriam combater esse putrefato estado de coisas. Aí estão, a nu, os nossos "formadores de opinião" - e, se as coisas agora são assim, o futuro que se prenuncia é aterrador. Socorro!
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