A VOZ DO INTER - Nunca me Esquecerei
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A VOZ DO INTER - Nunca me Esquecerei


           
       
           No início de tudo éramos os maiorais. O que existia era o campeonato regional e nele éramos imbatíveis. O rolo compressor destruía os adversários. Iniciou então o campeonato nacional. Já tínhamos o maior estádio particular do mundo, oito títulos estaduais em sequência. Os três campeonatos nacionais foram consequência. Estávamos consolidados como um dos maiores clubes do Brasil e do mundo. Ai o rival ganhou uma tal de Libertadores da América, que ninguém dava o real valor. E começou a nossa busca incessante por uma ?Copa?. Já tinha batido na trave em 1980. Em 1989 perdemos um jogo ganho, em casa, nos pênaltis. ?De bicicleta não se vai ao Japão?, ?Fiado só quando o Inter for Campeão da América?, ?La Copa se mira y no se toca? era o que se ouvia. E a busca pelo sonho dourado da América continuava.

            Em 1993 fracassamos ao ser eliminado na primeira fase. Passamos mais de uma década sem jogar a maior competição do continente. Os colorados tinham a síndrome de vira-latas. E com razão. Era sempre um gol, um ponto, um jogo. Sempre éramos eliminados no detalhe. Ah os anos 90. Eles se foram sem deixar saudades. Na verdade serviram para formar uma geração de colorados. Como escreveu o gênio Luis Fernando Veríssimo ?quando for a nossa vez de novo teremos certamente a torcida mais dedicada, fiel, convicta e feliz do Brasil. Por que será a torcida dos que resistiram?. No ano de 2005 a coisa parecia que ia mudar, mas como sempre o imponderável agiu. O ano da Taça Roubada. Eu me resignava, nunca seria a nossa vez. Às vezes me pegava chorando sozinho, cobrando de Deus o por quê. Não era justo.

            Veio o ano de 2006, a volta a Libertadores e o lema ?Agora é Guerra?. Uma boa classificação na primeira fase, vitória fora de casa nas oitavas, classificação para as quartas. No primeiro jogo, derrota fora de casa. E ai uma pausa de mais de um mês para o jogo da volta. Era difícil viver. A espera foi recompensada, com gols de Sóbis e Renteria. Faltavam quatro jogos e o sonho era possível. No jogo de volta das semifinais, após pressão do Libertad, tive o desespero de imaginar que aconteceria de novo. Seríamos eliminados em casa. Mais uma vez fracassaríamos. Mas veio o gol do Alex e a vitória.

            Agora era a final contra o Campeão do Mundo. O medo de todo colorado era ser goleado no jogo da ida e chegar morto para a decisão em casa. Mas brilhou um guri de Erechim, colorado. Rafael Sóbis marcou dois e rasgou a camisa do São Paulo. Um dos maiores jogos da história do Inter. O Morumbi virou o Beira-Rio. ?A semana inteira fiquei esperando, pra te ver sorrindo, pra te ver cantando?, essa foi a canção que resumiu o jogo e a semana que viria. Os minutos se arrastavam, teimavam em não passar. Ninguém vivia, simplesmente existíamos e esperávamos chegar o dia 16 de Agosto.

            Fui para o estádio cedo, logo depois do almoço. Quer dizer, depois da hora do almoço. Quem conseguiu comer? A espera pelo jogo, as filas, o estádio superlotado. Quando me dei por conta eu estava espremido nas sociais, os times estavam em campo e a fumaça dos sinalizadores impedia que se visse a qualquer coisa a sua frente. Começou o jogo, gol dele, o Capitão América. A América seria vermelha. Mas nunca é fácil para o Inter. Seria uma guerra. O São Paulo empatou. O Inter virou com Tinga de cabeça. Ninguém nos tira mais o título. Mas ai o homem do gol levanta a camisa e é expulso. De herói a vilão? Se o Inter não ganhar, Paulo César Tinga, o menino pobre que via os jogos do colorado na coreia do Beira-Rio seria o maior vilão da história colorada. Não seria justo isso com a nossa torcida. Mais uns minutos de jogo, Clemer falha e o empate vem. Agora o time é só defesa. Clemer se redime e faz um milagre numa cabeçada a queima roupa. E acabou. A América até que enfim era vermelha. Não devíamos mais nada a ninguém.

            Eu nunca vi tanta gente chorando de alegria. Abel enlouquecido. Fernando Carvalho e Vitorio Piffero em êxtase. Rafael Sóbis chorando em campo, correndo de um lado para o outro com a bandeira colorada. E nós na arquibancada se sentindo parte daquele todo. Se sentindo de fato campeões da América.

            Os azuis sentiram muito. Nunca esperavam. Um amigo dizia: ?Deus não vai permitir que eu veja o Inter ganhar a Libertadores. Vai me levar antes?. Ele te deixou, para que tu veja o Inter ganhar também o Mundial, e outra vez a Libertadores. ?La Copa se mira y se toca si?.

            Depois disso viramos o Campeão de Tudo. Eu eliminei todos os meus medos. Vi o Inter derrotar o poderoso Barcelona. Vi ganhar a Recopa, a Sulamericana. Vi o Inter ser campeão dentro do Olímpico, numa virada histórica, num duelo Falcão x Renato. Até mesmo o Juventude, antiga pedra no caminho colorado, foi humilhado, tomando oito gols numa final. Quem mandou ele achar um dia que seria grande. Para a minha geração, falta o Brasileiro. Ele virá. Mais cedo ou mais tarde, ele virá. Somos a torcida dos que resistiram. Somos o Inter que tem passado, presente e futuro. Vamos ganhar tudo de novo. Mas o 16 de Agosto de 2006 ficará para sempre na memória. ?Eu nunca me esquecerei dos dias que passei contigo Inter?.

        Marcelo Ducati Ferreira
        @marceloducati



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