A VOZ DO INTER - Meu primeiro Grenal
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A VOZ DO INTER - Meu primeiro Grenal



           
               Na verdade, esse título pode ser um erro. Eu não tenho certeza se foi meu primeiro Grenal. Sei que não foi o primeiro jogo que assisti no Beira-Rio, mas é o primeiro do eu me lembro em detalhes. Era verão de 1989, eu tinha oito anos. Saí da praia, em Noiva do Mar, e vim para Porto Alegre. À época eu não tinha noção da importância do jogo: um jogo decisivo de semifinal de Brasileiro, valendo vaga para a Libertadores. O Grenal do Século.

                Lembro de ter ido almoçar na Fundação Banrisul, na zona sul de Porto Alegre. Eu vestia a minha camisa nove do Nilson. Depois do almoço, fomos eu meu tio e minha madrinha direto para o Beira-Rio. Eu não entendia porque era preciso ir tão cedo ao estádio, já que a partida estava marcada para às 17h. Ao chegar nas cercanias, entendi: nunca tinha visto tanta gente junta. Ingressos comprados, entramos nas sociais, fugindo do sol que castigava a todos naquela tarde. E o tempo não passava. Para uma criança de oito anos tudo é diferente, até o tempo. Não haviam joguinhos no celular para fazer o tempo passar. Minha diversão era ver o pessoal pulando da coréia para as sociais. Achava engraçado ver principalmente os menos hábeis subirem. Eram muitas tentativas até obterem êxito. Às vezes, a polícia chegava e estragava tudo, quando o cara estava quase lá.

                Não me lembro do primeiro tempo. Lembro que tomamos o gol, tivemos um expulso, e alguém falou: ?Agora só o Abel no intervalo para mudar esse jogo?. E foi o que aconteceu. O Inter voltou alucinado, logo veio o empate. As muitas horas de arquibancada, os refrigerantes para amenizar o calor, a emoção do gol e molhei as calças. Sim, me mijei na arquibancada. Nem dei bola. Mais uns minutos e gol. Nilson. Eu nunca tinha visto aquilo na minha vida, aquela comoção coletiva. Um cara que estava no degrau de cima da arquibancada me pegou no colo e me jogou algumas vezes para o ar. Acabei a comemoração do gol uns quatro lances de arquibancada abaixo de onde eu estava.

                Aquele dia, aquele jogo ficaram para sempre na minha memória. O Nilson imitando o Sassá Mutema, correndo para torcida, o foguete que explode na frente dele. O segundo gol, ele ajoelhado na bandeirinha, com o Abel vindo abraçá-lo. A narração do Ranzolin: ?meus amigos, indescritível o quadro que a gente vê no Beira-Rio. Com dez jogadores o Internacional vira o jogo?. O Nilson dando tchau para os gremistas. O Maurício saindo de campo imitando um aviãzinho. Tem também a narração da TV, que passou a ser o grito de qualquer artilheiro infantil de pelada: ?Nilson, Nilson, Nilson, Nilson. Ele não perdoa, Nilson não perdoa: mata?.


                Aquele jogo ajudou na formação dos colorados. Eram tempos difíceis. Por anos e anos, foi motivo de defesa: ?Quem ganhou o Grenal do século, quem? Com um a menos em campo, de virada?. Depois daquele dia, nos anos seguintes, passei por muitas e muitas emoções, alegrias e tristezas no Beira-Rio. Muitas delas em Grenais, com vitórias e derrotas. Mas aquele jogo, aquele jogo, meus amigos, foi e sempre será especial.

              Marcelo Ducati Ferreira
             @marceloducati



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