A voz da massa excluída da Copa no Recife
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A voz da massa excluída da Copa no Recife


Estive recentemente em Recife, e pelo que pude investigar, ficou bem claro que as expectativas das torcidas não só em relação à Copa das Confederações, mas também em relação à Copa do Mundo, são bastante diferentes. Via de regra, a torcida do Santa Cruz, o time de massa de Pernambuco, despreza a realização destes grande eventos em sua cidade. Isso porque o projeto inicial previa a construção da Arena Pernambuco no local onde fica o Mundão do Arruda, a sua casa.

O conselheiro Patrick Dias, responsável pela Santa Cruz Store, a loja oficial do clube, nos concedeu uma entrevista relatando o sentimento da torcida em relação à Copa das Confederações:



Futebol Comportamental - Qual o sentimento da torcida coral em relação à Copa das Confederações?

Olhe, na realidade o nosso torcedor não está dando grande importância a isso. Existe um sentimento de desprezo por toda essa politicagem que envolveu a construção da Arena por aqui. O projeto inicial previa que ela fosse construída aqui, na área do maior estádio de Pernambuco; mas alegaram que supostamente não havia espaço para estacionamento, e então optaram por construí-la em outro lugar.


FC - É positivo para o futebol pernambucano a construção de uma nova Arena?

Mais do que negativo, para mim é um absurdo. Veja: temos três times aqui no Recife, e decidiram construir mais um estádio, muito longe de tudo. Para que esse estádio seja utilizado depois da Copa, tiveram que fazer uma proposta muito vantajosa ao Náutico, pois a princípio procuraram o Santa Cruz, que não quis, o Sport, também não quis, o próprio Náutico só concordou quando a proposta melhorou bastante. Ou seja, uma grande soma de dinheiro gasto sem nenhuma necessidade.


FC - Politicamente, qual o peso dessa decisão de construir algo novo e bem afastado de tudo?

Infelizmente não quiseram beneficiar o povo, aquele que mais precisa. Aqui do lado fica o maior bairro do estado, o Casa Amarela, que tem 700 mil habitantes. Esse povo não tem ônibus decente, não tem metrô próximo, e todos viam a Copa como uma chance de melhorar a vida dessa gente sofrida. Existe uma avenida que corta toda a cidade, ligando o Centro ao Casa Amarela; era uma grande oportunidade de construir um metrô, dando melhores condições de deslocamento para essa massa. Ao invés disso, preferiram construir uma cidade artificial, num lugar afastado, exatamente para excluir o povo do futebol. 


FC - Dentro de campo, qual a expectativa do Santa Cruz para a disputa da Série C?

Temos um bom time, as dúvidas estão na comissão técnica. Após a saída de Marcelo Martelotte para o Sport, o Santa Cruz não tinha dinheiro para trazer um treinador de nome. Então, Sandro foi escolhido para ser o treinador, ele era o auxiliar técnico de Zé Teodoro desde 2011, conhece o grupo e foi uma aposta que até agora não tem dado bons resultados. Não podemos passar mais um ano na série C, um time com a nossa torcida e com o nosso tamanho merece coisa melhor.


FC - Conta para nós como é esse projeto das lojas do Santa Cruz?

Essa loja existe desde 2009, no intuito de aproveitar a paixão do nosso torcedor para beneficiar o clube.  É um projeto da Gol Store, um grupo de empresários que resolveu investir no Santa Cruz. Hoje, das lojas do grupo, como a do Fortaleza, do América de Natal e da Portuguesa, entre outras, somos a primeira em faturamento, mais do que o dobro do que fatura a segunda.


FC - Como o Santa Cruz tem trabalhado a questão dos seus sócios?

Hoje não adianta mais você ter torcedores, você tem que ter consumidores de camisas, de produtos, as pessoas têm que se associar. Temos dado muita atenção a este tema, e hoje somos o clube que mais cresce no Nordeste em número de sócios.  Estamos atualmente com 14 mil sócios em dia, o segundo time tem cerca de 8 mil. Para você ver a força da nossa torcida, apesar de humilde e sofrida, está sempre junto com o time. Eu mesmo, quando criança em Garanhuns, pagava minha própria mensalidade. Naquela época, eu era o único que, além de torcer para o Santa Cruz, torcia para um time pernambucano. Hoje, graças a Deus, essa realidade mudou.


O Futebol Comportamental agradece pela entrevista e só lamenta não ter conseguido ingressar no impressionante Estádio do Arruda, pois estava fechado devido às férias do departamento de futebol. Mas valeu a visita ao grande clube da massa pernambucana!



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