Futebol
A cara do clube
Tava aqui pensando sobre a contratação de Vanderlei Luxemburgo pelo Grêmio. Mais além da sensação estranha de contratar o maior inimigo tricolor da década de 90, e um cara que sempre disse ter vontade de trabalhar no Inter, existe aquela história de o técnico ser "a cara do Grêmio" ou não.
E aí, eu fiquei analisando o que exatamente seria essa "cara", o que realmente significa isso, e cheguei a algumas conclusões, de forma geral, que queria compartilhar com vocês.
Na verdade, eu acredito muito em projetos futebolísticos, em busca de uma identidade que tenha a ver com o clube, com a torcida, e se traduza em conquistas. Ao redor do mundo, temos diversos exemplos disso. Ninguém pode imaginar um Barcelona jogando num sistema diferente do 4-3-3 (com variações, ok, mas ainda um 4-3-3), através de um futebol ofensivo. Assim como ninguém consegue imaginar o Bayern de Munique jogando um futebol leve, de toque de bola. Louis Van Gaal recentemente confessou essa dificuldade. Na Argentina, o Boca está reconquistando sua antiga forma. Isso porque o clube voltou a privilegiar as categorias de base (Viatri, Blandi, Caruzzo, Roncaglia, entre outros, são realidades no time de cima) e a adotar seu vitorioso e simples sistema tático 4-4-2 com um losango no meio de campo. Técnicos anteriores tentaram impor suas ideologias e fizeram o Boca jogar com 3 zagueiros, com 3 atacantes, com duas linhas de 4, e nada deu certo (o 4-4-2 adotado permite variações táticas no meio do jogo, mas ainda assim é um 4-4-2). Simples, o clube voltou a jogar como sempre (e com outros jogadores) e voltou a ganhar. O River e o Independiente são clubes de torcidas conhecidas pelo "paladar negro", ou seja, não importa que o time vença, eles querem que jogue bem e se possível goleie (o famoso "gana, gusta e golea"). Justamente por não atender a este requisito na montagem de seus times -e por não darem a devida atenção às suas categorias de base- os dois clubes estão mergulhados em grandes crises institucionais, com o River lutando para sair da 2ª Divisão.
Aqui no Brasil, temos algumas particularidades. As identidades futebolísticas mudam com mais frequência, e times vencedores são montados de formas diferentes, dificultando o fortalecimento de um jeito próprio do time jogar, independentemente dos profissionais que estejam trabalhando no clube. O Palmeiras, por exemplo, sempre foi a Academia, jogando um futebol leve, de toque de bola, muito vistoso, isso lá pela década de 70. Mais tarde, nos anos 2000, Felipão montou um time de força, bola aérea e velocidade, que conquistou a Libertadores e fez o paladar da torcida ser um pouco alterado. O novo palmeirense hoje exige entrega e vitória, antes do bom futebol. O Flamengo sempre jogou tocando a bola, privilegiando o ataque, formando jogadores na base (craque o Flamengo faz em casa), e por muito tempo abandonou essas concepções, fazendo com que o time vivesse numa crise permanente. O novo contrato com a televisão indica uma esperança no sentido de retomar o caminho das vitórias, mas é fundamental haver uma revisão nos conceitos de futebol praticado. O Corinthians ganha de 1 x 0 e está ótimo para a torcida, sempre foi assim e sempre vai ser. Lá, é necessário jogar com raça, dedicação, luta e entrega, com o futebol vistoso ficando em segundo plano.
Aqui no RS, sempre tivemos a dicotomia Inter x Grêmio: o primeiro jogava o futebol bonito, vistoso, com expoentes como Falcão e Carpeggiani, que dentro de campo representavam os anseios da torcida colorada; o Grêmio sempre foi o time argentino, que joga fechado, com bola aérea, velocidade, catimbeiro, à par do que a torcida tricolor gosta de ver dentro de campo. A grande maioria dos ídolos gremistas são representantes desse tipo de futebol.
E agora chegamos ao ponto. Vanderlei Luxemburgo será capaz de fazer o time jogar esse tipo de futebol? Para auxiliar a resposta, vamos olhar para o lado colorado. O Inter teve uma terrível década de 90 e apostou na concepção de futebol do rival Grêmio, no que diz respeito ao futebol de força, de garra, inspirado no futebol platino (de onde vieram grandes ídolos do clube, como Guiñazú e D'Alessandro), e acrescentaram a tudo isso uma moderna gestão de categorias de base. A torcida mudou, hoje os jovens substituíram a batucada do samba e a belíssima charanga por bumbos e cantos argentinos, e os títulos vieram. Já existe hoje um movimento gradual para se retomar aquele futebol vistoso de outrora (o time fantástico de 2012 é o melhor exemplo disso) e já existem na arquibancada músicas que têm mais a ver com a história do clube (caso das excelentes Tema da Vitória e Brasília Amarela).
O Grêmio vive uma grave crise institucional. Uma crise que levou a uma confusão de valores e de ideias, traduzidas em escolhas de técnicos como Paulo Autuori, Vágner Mancini e Caio Júnior. Técnicos que têm uma concepção absolutamente diferente de futebol, adeptos do futebol de técnica, velocidade, toque de bola, ofensivo. E os times vencedores do Grêmio eram o oposto disso. Mas o Tite foi campeão jogando um futebol bonito. Evaristo de Macedo, a mesma coisa. Lá atrás, Telê Santana, adepto do futebol bonito, foi campeão no Grêmio. Abel Braga, um dos maiores ofensivistas em atividade, foi campeão da América e do Mundo no Inter (com alguma ingerência de Fernando Carvalho, é verdade, mas foi campeão). E então? Então quando as coisas estão bem, o clube está relativamente unido (especialmente politicamente), as chances de ser campeão são maiores, independentemente do estilo dos profissionais. Porque a maior verdade do futebol é a qualidade dos jogadores, e disso não dá para escapar. Mas quando as coisas vão mal, nada funciona e o caos se instala, a melhor coisa a ser feita é olhar para dentro de si e usar modelos antigos que deram certo. E é exatamente aí onde Luxemburgo não se encaixa.
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